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O guerreiro saiu da reserva. “O Porto” está de volta a casa

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Carrega o nome da cidade e o seu caráter liberal. É a sua mais antiga estátua, sinal de combate e defesa. “O Porto”, um dos grandes símbolos da Invicta, depois de votado às reservas municipais, foi restaurado e está de volta a casa, “o lugar de onde nunca devia ter saído”.

A história deste guerreiro, inspirado na figura do deus Marte, remonta a 1818 e traz consigo a representação do poder municipal, ou não tivesse sido encomendado para se instalar junto ao Palacete dos Monteiro Moreira, onde, então, se encontravam os Paços do Concelho, devido ao estado de ruína da primitiva Torre do Senado Municipal, no morro da Sé.

O autor d’O Porto, João de Sousa Alão, confiou às mãos do mestre pedreiro João da Silva, uma estátua em granito de um guerreiro, com elmo sobrepujado por um dragão, uma lança e um escudo com as antigas armas da cidade. E ali esteve, ao longo de quase um século, no seu papel de defensor da cidade.

Quando, em 1916, se iniciaram as obras de abertura da Avenida dos Aliados, começou a errância d’O Porto ou, como considera o diretor do Museu do Porto, a passagem por “múltiplos destinos precários”: junto ao Paço Episcopal, à muralha fernandina, duas estadias nos Jardins do Palácio de Cristal, até passar a fazer parte do projeto de Fernando Távora, “na constelação simbólica que projetou para a Antiga Casa da Câmara”, reaberta em agosto de 2023, considera Jorge Sobrado.

“A Antiga Casa da Câmara e esta estátua fazem um memorial, uma evocação à vontade de ser da cidade, à vontade política de ser do Porto”, sublinha, lembrando como o dragão no elmo do guerreiro “é um símbolo do Liberalismo que tomava conta da cidade”. “O Porto foi a cidade do Liberalismo em Portugal”, reforça o diretor do Museu.

Outras paragens se seguiram, a última na Praça da Liberdade. No momento do reencontro deste símbolo com a cidade, com os portuenses, Jorge Sobrado considera que o ato de recolocação da estátua junto à Antiga Casa da Câmara representa “um respeito e um ato de justiça para com o arquiteto Fernando Távora, no ano em que estamos a comemorar o centenário do seu nascimento, e, também, para com a integridade do seu projeto”.

Certo de que “esta devolução permite, também, enriquecer a cidade com a sua simbologia e o seu património”, o diretor do Museu do Porto sublinha que “todo o património é, em si mesmo, uma afirmação da cidade e, nesse sentido, é uma afirmação política”.

Acompanhando de perto o momento da recolocação da estátua junto à Antiga Casa da Câmara, o presidente da autarquia considerou que “O Porto”, “nunca devia ter saído” dali, tal como projetado por Fernando Távora.

“Ela já andou por muito lado. O Porto anda sempre a passear, tem sido itinerante. Enquanto eu cá estiver, é para permanecer aqui”, assegura Rui Moreira.