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O espólio de Germano Silva exibe a “alma portuense” na Casa do Infante

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Está patente até 16 de janeiro, na Casa do Infante, a exposição Germano Arquivo, que mostra parte do material que o jornalista, historiador e bibliófilo Germano Silva recentemente doou ao Arquivo Histórico Municipal.

Mais do que uma inauguração, uma celebração. A mostra Germano Arquivo, patente na Casa do Infante, foi desvendada na quinta-feira ao final da tarde, num ato de homenagem a dobrar ao jornalista, historiador e bibliófilo. “Celebramos duplamente: em primeiro lugar, homenageamos os 90 anos de Germano Silva – a figura ímpar, inclassificável e incontornável. Em segundo lugar, assinalamos a valiosa doação do espólio pessoal que recentemente fez ao Município”, sublinhou o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira.

A mostra exibe uma parte dos quase 1400 documentos que Germano Silva doou ao Arquivo Histórico Municipal, que traçam um retrato da cidade e da sociedade do século XVI ao século XX. “Nota-se um fio condutor nas opções do colecionador, linhas de força, pontos de interesse. O tema das liberdades, uma procura da alma portuense (as curiosidades, aparentemente triviais), a história da cidade (a toponímia, os monumentos, os bairros, os acontecimentos, as figuras marcantes ou personagens anónimas, etc.)”, notou Rui Moreira, agradecendo “a generosidade, a dedicação, o amor à cidade”.

“Germano é um historiador a quem interessa o pulsar da cidade. Interessam-lhe as pessoas, as suas vidas. A sua primeira doação remonta a 2001 e compreendia 547 documentos. Esta segunda doação, em 2021, compreende um total de 1372 documentos individuais ou conjuntos, entre os quais manuscritos, álbuns fotográficos, cartazes, ephemera, guias de viagem, entre outros”, acrescentou o presidente da Câmara do Porto.

Este material ficará à guarda dos técnicos do Arquivo, que se ocuparão do seu estudo, conservação, tratamento e divulgação. “Disponibilizando-o aos cidadãos e contribuindo para a multiplicação e transmissão de conhecimento sobre a cidade”, enalteceu ainda Rui Moreira. “O arquivo de Germano é, como todos os arquivos, uma espécie de labirinto. Que nos possamos embrenhar nele e encontrar a cidade onde vivemos e que amamos”, concluiu o autarca, com um reiterado agradecimento ao doador e um cumprimento a Manuel Real, que ao longo de mais de 30 anos esteve à frente do arquivo da autarquia, e à Casa do Infante.

“Sentimento de partilha muito ativo”

A encerrar a sessão formal que antecedeu a visita à exposição – e que contou com a presença do diretor artístico do Museu da Cidade e programador da exposição Germano Arquivo, Nuno Faria, bem como de vereadores do Executivo municipal – Germano Silva agradeceu a “amabilidade e gentileza” com que o presidente da Câmara do Porto acolheu a oferta. “Tenho um sentimento de partilha muito ativo. Não podia permitir que este espólio se dispersasse, ele tinha de ficar aqui. Tive uma oferta, mas entendi que devia ficar à disposição da comunidade. O melhor património desta cidade são os seus cidadãos”, frisou o jornalista, historiador e bibliófilo, confessando o seu orgulho e acrescentando uma nota de humor: “Eu sou um falso idoso. Não volto a fazer 90 anos, para não dar esta trabalheira”.

A idade é apenas um número, diria o investigador do CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória» – Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Amândio Barros, na sua intervenção: “O Germano não para. Esta vitalidade é um fenómeno que devia ser estudado”. “Ninguém conhece o Porto como o Germano Silva. Interessa-se pela história do Porto como um historiador. É aqui que mora a memória da cidade”, vincou.

“Um exemplo nacional”

Congratulando-se pelos documentos que Germano Silva “generosamente foi capaz de deixar para os vindouros, oferecendo-os à Câmara do Porto”, o diretor-geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, também responsável pelo Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Silvestre Lacerda, falou num “casamento feliz” entre Germano Silva e a autarquia: “É um exemplo nacional que eu gostaria de salientar. Não é a primeira dádiva que faz à Câmara do Porto. As instituições públicas são um garante de acesso ao conhecimento. Estamos numa casa com um trabalho muito forte na renovação dos estudos portuenses”, elogiou.

“O Jornalismo tem muito a aprender com a História. O Germano Silva devia ser um caso de estudo nas escolas de Jornalismo: querer saber mais, ser capaz de aprender e transmitir aos leitores e ouvintes”, enalteceu Pedro Olavo Simões, diretor da revista Jornal de Notícias – História.

A sessão de homenagem a Germano Silva teve transmissão em direto na Internet, que pode ser revista aqui. A inauguração da mostra terminou com uma apresentação do Rancho Folclórico do Porto. A exposição Germano Arquivo revela-se no Gabinete do Tempo da Casa do Infante de terça-feira a domingo, das 10 às 17,30 horas. A entrada é gratuita.