Mobilidade

O “aeroporto para autocarros” de Campanhã já teve perto de meio milhão de passageiros

  • Porto.

  • Notícia

    Notícia

Três meses depois da inauguração do Terminal Intermodal de Campanhã, a 20 de julho, já é possível fazer um balanço da operação: foi um tempo de “aprendizagem”, admite a STCP Serviços, entidade gestora daquela infraestrutura. Entre partidas e chegadas, perto de meio milhão de passageiros passou por ali.

O dia mostrou cara cinzenta, a condizer com a cor dominante no Terminal Intermodal de Campanhã (TIC), mas, no interior do edifício de betão cinzento, as condições meteorológicas não preocupavam quem aguardava pelo seu transporte. Os passageiros distribuíam-se pelo espaço amplo e arejado, contribuindo para a estatística que alimenta o otimismo da gestão: “Já temos mais de 500 toques por semana. Em termos de passageiros, nestes três meses, estamos a falar de perto de meio milhão. Tem sido tudo muito progressivo”, congratula-se a gerente da STCP Serviços, Teresa Stanislau.

Os números “correspondem às expectativas”, acrescenta: “Está dentro daquilo que nós esperávamos. Foram três meses de aprendizagem para todos. Para nós, que gerimos o terminal. Para os operadores, e para os próprios clientes. É um processo de habituação para todos, porque é um terminal que funciona de forma completamente diferente dos outros.”

“Basicamente, estamos num aeroporto para autocarros”, compara a gerente da STCP Serviços, detalhando que não existem “cais dedicados”. “Os operadores têm de aprender a funcionar neste sistema, tudo isto é otimizado. Até tem sido uma aprendizagem bastante rápida, apesar de existir ainda alguma coisa para corrigir”, reconhece.

“Todos se sentem confortáveis”

A mudança foi benéfica também para os passageiros, acredita Teresa Stanislau. “Aquilo que nos vão dizendo é que gostam do edifício. Todos se sentem confortáveis e dizem que tiveram uma melhoria em relação às condições que tinham. Referem as casas de banho, a limpeza”, enumera a responsável. “Sentimos que é necessária alguma informação extra de encaminhamento”, diz ainda, admitindo “algumas queixas, mas sobretudo de serviços de autocarro, não tanto do edifício em si.”

Refletindo a aposta no transporte público eficiente e sustentável, bem como a ambição de o Município do Porto atingir a neutralidade carbónica até 2030, o TIC “é uma obra pensada para trazer qualidade de vida aos portuenses”, vinca a gerente da STCP Serviços. “Não só a quem nos visita, porque tem qualidade no serviço à chegada à cidade, mas sobretudo aos portuenses. Daqui, também eles partem para o mundo – e deixaram de ter a cidade deles cheia de autocarros, todos os dias”, sublinha Teresa Stanislau.

“Estamos a conseguir tirar centenas de autocarros da cidade. Em termos de emissões, claro que isso se reflete no imediato, e mais ainda quando temos uma cobertura verde e um parque deste tamanho”, conclui a mesma responsável.

De frente para a cobertura verde, a esplanada da cafetaria do TIC é o local para “matar o tempo” enquanto se aguarda. “Temos aqui um espaço muito agradável. Acho que as pessoas estão a aderir muito bem. A nível de condições, haverá sempre umas arestas a acertar. Mas isso é normal”, assinala Paula Gandra, que explora a cafetaria.

“Este estabelecimento, na minha opinião, devia estar junto à central de camionagem, mesmo lá em baixo. Mas quem quer vir à cafetaria acaba por procurar”, acrescenta a empresária, que tem outro espaço no Terminal Rodoviário do Campo 24 de Agosto. Pelo seu estabelecimento no TIC passam diariamente centenas de passageiros, o que permite recolher algum feedback: “As pessoas estão a gostar do terminal, isto é tudo novo.”

“Impacto muito positivo”

No cais de embarque, Marcelo Gallo prepara-se para fazer a viagem até Coimbra. “Moro aqui no Porto e dou aulas em Coimbra duas vezes por semana. As condições em que apanhava o autocarro, na Praça da Batalha, eram horríveis. Aqui, pelo menos, estamos num lugar seguro”, realça, considerando o TIC “uma obra importante para quem usa o autocarro para ir trabalhar quotidianamente, e mesmo para a própria cidade. Vai ser muito bom quando estiverem terminados os acessos às linhas de comboio. Na Praça da Batalha não havia condições nenhumas, ficávamos à chuva e ao frio. Era muito mau, muito mau mesmo. O conforto é bem diferente. Há casas de banho, cafetaria, há uma passagem direta para o metro”, acrescenta.

Simone Pereira costuma usar o terminal “a cada 10-15 dias”. “Acho que tem pouca sinalização, mas percebe-se que está a haver melhoramentos. Há alguns atrasos também, mas isso a gente entende”, afirma. Esta passageira nota ainda que “o conforto precisa de melhorar um pouco”. “As casas de banho, o café, fica tudo no piso de cima. E há pouca informação nos ecrãs”, lamenta.

A passar pelo TIC pela primeira vez, Fátima Paiva vê um espaço “prático e funcional”. “[Construir o terminal] foi uma excelente ideia, porque é uma forma de retirar os autocarros e a poluição do centro da cidade. Aqui é uma mais-valia, junta os autocarros ao metro e ao comboio. Vamos para qualquer lado”, sublinha.

“Costumava apanhar os transportes para Lisboa, no Campo 24 de Agosto. Este é bem melhor, mais aberto. O outro é muito escuro, não tem grandes condições. É bom, porque está no centro da cidade, mas, devido à poluição, é bem melhor estar na periferia do Porto. Estar perto dos transportes todos é excelente”, salienta Fátima Paiva.

Olhos no futuro

Os jovens Regina e Rafael também são frequentadores recentes do TIC, rumo ao futuro que estão a começar a construir. “Só entrei este ano na faculdade, então comecei a apanhar os transportes já aqui”, explica ele, elogiando as “ótimas condições” que o espaço oferece: “Está bem organizado. Acho que o que diferencia mais o terminal é mesmo a organização, é facilmente visível onde é que se apanha o autocarro.”

De olhos postos no futuro, a gerente da STCP Serviços também vê perspetivas animadoras. “Temos vários pedidos, que estão a ser analisados, de novas linhas. Até ao final do ano vamos ver um crescimento exponencial da procura deste terminal”, acredita.

“Tivemos, na semana passada, uma reunião de balanço [com os operadores]. Temos ligeiros pontos a afinar, mas todos eles estão contentes com esta mudança para o TIC”, congratula-se Teresa Stanislau, concluindo: “Estão cá seis operadores diferentes, que têm vindo a aumentar a sua oferta de mês para mês. Temos pedidos de cerca de mais 50 linhas, de operadores que já cá estão, mas este é um processo mais lento, até porque envolve outras entidades.”