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O acervo de Eugénio de Andrade chegou a casa

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É o sonho de qualquer bibliófilo: a cave da Casa dos Livros está repleta de caixotes, dos quais, nos próximos dias, vai começar a sair o acervo do poeta Eugénio de Andrade, para ser catalogado, preservado e estudado, com vista à futura disponibilização ao público. A formalização da cedência do espólio teve lugar nesta quarta-feira, com a assinatura do contrato de depósito entre a Câmara do Porto e a Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP).

Descrevendo a ocasião como “mais uma etapa da feliz parceria entre o Município do Porto, a Universidade do Porto e a sua Faculdade de Letras”, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, considerou tratar-se de “um passo decisivo no reencontro de Eugénio com a cidade que fez sua.”

“Apesar de nascido no Fundão, em 1923”, assinalou o autarca, “foi no Porto que, em grande medida, Eugénio forjou a sua identidade pessoal e literária”. “O Porto é uma cidade que nos interpela, que nos sobressalta, que nos agarra. E essa força primacial terá certamente ajudado a moldar a personalidade de Eugénio de Andrade e o seu labor poético”, acrescentou.

“Se é certo que o enraizamento portuense do poeta influenciou a sua vida e obra, também não é menos verdade que o Porto ganhou uma outra aura, uma outra dimensão nos poemas de Eugénio. Vários dos seus poemas traduzem a singularidade desta cidade, a têmpera granítica das suas gentes, o bucolismo melancólico dos seus jardins, a austeridade penumbrosa das suas ruas. Por tudo isto, o Município do Porto tem o dever de zelar pela memória de um dos maiores poetas da cidade. É o que temos feito e continuaremos a fazer, agora que se aproxima o centenário do nascimento de Eugénio de Andrade”, concluiu Rui Moreira, cumprimentando a FLUP pelo trabalho realizado na Casa dos Livros. “Estou seguro de que, em breve, este Centro de Estudos da Cultura se tornará um equipamento de referência na investigação, valorização e divulgação de escritores e obras de relevo da nossa língua”, assinalou.

“Espaço ideal”

Numa cerimónia à qual assistiram os vereadores Filipe Araújo, Catarina Araújo e Fernando Paulo, bem como o novo diretor do Museu da Cidade e das bibliotecas municipais, Jorge Sobrado, a diretora da FLUP, Fernanda Ribeiro, salientou que o Palacete Burmester, à Rua do Campo Alegre, é “o espaço ideal para o fim que tínhamos em vista.”

Lembrando que a Casa dos Livros acolhe o legado de vários autores, como Vasco Graça Moura, Óscar Lopes, Herberto Helder, Manuel António Pina e Albano Martins, a diretora da FLUP congratulou-se com a chegada do espólio de Eugénio de Andrade: “Aqui ficará para ser catalogado e disponibilizado ao público.”

“Decidimos também atribuir a este auditório o nome de Eugénio de Andrade, em frente à sala Vasco Graça Moura”, acrescentou Fernanda Ribeiro, agradecendo a confiança do Município do Porto e reiterando o compromisso com a “divulgação e valorização da cultura portuguesa.”

O reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira, destacou o “momento decisivo para a preservação do espólio de Eugénio de Andrade”, salientando o imperativo de guardar e preservar “uma página da nossa memória coletiva”. “É nossa vontade que o espólio encontre aqui um abrigo e um porto seguro, onde possa estudar-se e plantar sonhos na cabeça dos homens”, acrescentou.

“Agradeço à Câmara do Porto e ao seu presidente a confiança depositada neste projeto, que ainda gatinha”, apontou António Sousa Pereira, concluindo: “Bem-vindo Eugénio de Andrade, à sua e à nossa casa dos livros.”

A cedência do acervo do poeta Eugénio de Andrade, aprovada pelo Executivo municipal, por unanimidade, em março, prevê igualmente a atribuição de um apoio anual de 20 mil euros, durante três anos. Os mais de 17 mil livros; 1.400 manuscritos, dactiloscritos, tiposcritos com anotações e desenhos; 7.400 cartas, telegramas, postais e fotografias – até aqui depositados na Biblioteca Pública Municipal do Porto – serão objeto de classificação e indexação pela FLUP, para posterior estudo e disponibilização pública.

Papéis de Eugénio de Andrade

Simultaneamente, estão disponíveis os manuscritos de Eugénio de Andrade que ficam à guarda da Biblioteca Pública Municipal do Porto, cujo registo bibliográfico está disponível em aqui.

Os “Papéis de Eugénio de Andrade” contemplam, entre outros: manuscritos que testemunham a atividade literária do autor; correspondência desde os anos de juventude até praticamente à sua morte; e uma coleção de fotografias. Por se tratar de um espólio vasto, foi criado um instrumento de pesquisa, “finding aid”, em atualização permanente, que visa auxiliar os utilizadores na rápida compreensão tanto do conteúdo como do contexto do referido acervo.

Enquanto guia descritivo dos “Papéis de Eugénio de Andrade”, o “finding aid” contém informações sobre: Título e sistema de organização do espólio; História e biografia; Tamanho (extensão) do acervo; Condições de acesso e de reprodução da documentação; Listas de conteúdo distribuídas por séries documentais.

Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, é autor de uma extensa obra traduzida para mais de 20 línguas, tendo recebido diversos prémios e distinções, dos quais se destaca o prémio Camões, em 2001.