Mobilidade

Nova ponte para o metro é crucial para a mobilidade de futuro entre Porto e Gaia

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As câmaras do Porto e Vila Nova de Gaia e a Metro do Porto juntaram-se a engenheiros, arquitetos, arquitetos paisagistas e peritos na área dos transportes para abrir a roda do diálogo em torno da futura ponte para o metro. Na noite desta quinta-feira, no auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, a conferência “Margens que se ligam” fez ouvir diferentes perspetivas para um projeto de grande impacto, mas importante para as respostas necessárias na mobilidade e no ambiente.

Com a única certeza de que “nenhum de nós tem certezas”, o presidente da Câmara do Porto enalteceu a importância de “discutir as coisas cara a cara, com as muitas sensibilidades que a todos nós também nos afligem”. “É mais ou menos inevitável”, acredita Rui Moreira, “que se queremos resolver alguma coisa [o compromisso da descarbonização], temos que fazer um forte investimento no transporte público”. “Não podemos continuar a viajar entre o Porto e Gaia da maneira que temos feito nos últimos anos”, reforça.

Referindo algumas das hipóteses que, ao longo do tempo, foram sendo postas em cima da mesa, o presidente da Câmara do Porto afirma que o maior entrave ao projeto é a ZEP [Zona Especial de Proteção] da Ponte da Arrábida. “A criação de zonas de proteção relativas a pontes pré-existentes causa constrangimentos que se pagam mais tarde”, disse Rui Moreira, que crê que “ao estarmos a proteger um determinado território, estamos a desproteger outros”.

Certo da necessidade de uma nova ponte “que pudesse ter três valências: a possibilidade do metro, mas permitisse também ciclovias e a mobilidade pedonal”, o autarca sublinha que a questão crucial está relacionada com a altura da ponte. “A escolha desta altura e desta entrada da ponte na malha urbana do Porto causa necessariamente impactos fortes a nível de um património edificado, no campus da Universidade e também em propriedades privadas”, assumiu Rui Moreira.

Como se resolve a equação? “Dificilmente conseguimos equacionar fazer uma coisa destas sem fazer algumas cedências”, responde o presidente da Câmara do Porto, acrescentando que “ao sermos demasiado fundamentalistas em determinadas áreas, ao fazermos uma proteção excessiva num lado, estamos a correr o risco de estragar aquilo que, de outra maneira, podia ser mais bem acomodado”.

Critérios rigorosos como proteção à objetividade das decisões

Da outra margem, o presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia considera esta ponte “o elemento central da mobilidade a norte e a sul do Douro”, além de “uma resposta cabal às questões ambientais”.

Assumindo o impacto da nova edificação – e a discussão que haveria sempre de trazer – Eduardo Vítor Rodrigues, tal como o presidente da Câmara do Porto, já há muito afastou a solução da Ponte da Arrábida que o que precisa “é de alívio”.

Quanto à altura da nova ponte, o autarca diz que “não veria com maus olhos uma idealista descida da cota, que levaria a enterrar o metro em Gaia”, no entanto, “isso implica enterrar o projeto por irracionalidade económica”.

Defendendo uma “justa conciliação”, o presidente da câmara gaiense diz que o essencial é “por um lado, perceber a importância da obra para as pessoas e para a região; e, por outro lado, acomodar todas as questões patrimoniais num modelo inteligente e justo de inserção no tecido urbano”.

Em referência às recentes contestações ao concurso, Eduardo Vítor Rodrigues sublinhou que “é a rigidez [de um caderno de encargos na contratação pública] que protege a objetividade das decisões”. “No atual código da contratação pública, pode escolher-se o cantor que preferimos para a festa de S. João, mas não se pode escolher o arquiteto ou engenheiro para uma obra de referência”, lançou o autarca, lamentando que “alguns se surpreendam pela exclusão de propostas que não cumpram critérios rigorosos” e que o caderno de encargos “seja contestado apenas após o conhecimento dos resultados”.

Concurso suspenso por ação interposta de concorrentes

Após as intervenções iniciais dos presidentes das câmaras do Porto e Vila Nova de Gaia, Tiago Braga, presidente da Metro do Porto, procurou dar resposta a algumas das críticas levantadas ao concurso para uma futura ponte: a rapidez com o que o processo se terá desenvolvido, o tipo de procedimento, o impedir da diversidade nos projetos, a ausência de interação com as partes interessadas, a preservação da Ponte da Arrábida ou a opção pela exclusividade de a ponte servir apenas o metro.

“Esta é uma linha fundamental para a Área Metropolitana do Porto conseguir atingir aquilo que são os desafios do futuro: tornar-se mais competitiva do ponto de vista da atratividade económica, da coesão social e de se tornar uma economia mais hipocarbónica, à frente dos outros”, acredita Tiago Braga.

No final das intervenções, a conferência “Margens que se ligam”, organizada pelo JN e TSF em parceria com as duas autarquias, abriu-se às diferentes perspetivas sobre o projeto e ao debate, onde participaram Joaquim Poças Martins, da Ordem dos Engenheiros Região Norte, João Pedro Xavier, diretor da Faculdade de Arquitetura da U.Porto, Teresa Marques, arquiteta paisagista da Faculdade de Ciências da U.Porto, o engenheiro especialista em transportes, Álvaro Costa, Teresa Calix, arquiteta e vice-diretora da Faculdade de Arquitetura, João Teixeira, enquanto presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras, e Paulo Farinha Marques, arquiteto paisagista da Faculdade de Ciências, todos da U.Porto.

A nova ponte sobre o Rio Douro será construída para servir uma nova linha da Metro do Porto. Os três projetos finalistas foram conhecidos em outubro. A adjudicação da obra deverá ser atribuída no início de dezembro para que a ponte se erga até ao final de 2025.

No entanto, o concurso foi suspenso depois de o Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto ter aceitado ações interpostas por alguns concorrentes.