Cultura

Nem do Porto, nem do Fundão. 100 anos de Eugénio levam raiz e vida do poeta a todos os lugares

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As fotos, os rascunhos, as cartas e os bilhetes, edições mais ou menos raras dos livros, mas também os anéis, os óculos e a máquina de escrever. Das origens, no Fundão, à vida - social e poética - no Porto, o acesso à imensidão de Eugénio de Andrade será democratizado através de uma biblioteca digital, tornada possível pelas vontades dos dois municípios em criar uma ponte que una o mundo do poeta. Para (não) fechar as celebrações do centenário do seu nascimento, a 19 de janeiro, o acervo de Eugénio estará disponível na internet. E assim se tornará do Porto, do Fundão, e de todos.

“Eugénio é uma pessoa nascida aqui e transformada no Porto”, considera Rui Moreira. Na assinatura do contrato interadministrativo de cooperação, na manhã desta quarta-feira, no Fundão, o presidente da Câmara do Porto sublinhou o momento que ergue a ponte entre os dois municípios, com a criação da biblioteca digital e a remontagem da exposição “A Arte dos Versos”, na Biblioteca Eugénio de Andrade, como “particularmente grato, particularmente sensível”.

O autarca lembrou como “Eugénio de Andrade tem uma representação que vai para além da poesia. Há quase uma relação metafísica da cidade com ele”. Rui Moreira aproveitou a ocasião para confirmar a reabilitação da casa do poeta no Porto e a vontade de “ter o auditório a funcionar antes de junho”, mês onde se assinala a data do seu falecimento.

“Para nós é muito importante esta colaboração” com o Município do Fundão, afirma o presidente da Câmara do Porto, sublinhando que o trabalho “não acaba aqui” e que este é “o começo da democratização daquele que é um património comum”, sendo essa, também, “uma das missões que temos nas nossas cidades”.

Novos caminhos para o regresso às origens

Por seu lado, o homólogo do Fundão enalteceu a “vontade expressa [pelo Município do Porto] de celebrar este nosso vulto comum que é Eugénio de Andrade, que nos foi aproximando e nos permitiu ter, entre o que são as nossas cidades, as nossas competências e, sobretudo, as nossas prioridades, esta ponte que, acredito, a partir de hoje, se tornará mais continuada e permamente”.

Paulo Fernandes acredita que “estamos perante municípios que não têm receio de pisar terrenos novos na forma como fazemos acontecer”. “Um autarca é sempre fazedor dos novos caminhos, devemos criar valor social e também económico em áreas que, tradicionalmente, não estão nas agendas, como as questões relativas a património imaterial, ao nosso património de personalidades”, acrescenta o presidente da Câmara do Fundão.

O autarca olha a assinatura do acordo de cooperação como um “garante de que [o acervo] não se perde, não se degrada, que não entra em processo de pulverização, até de vendas parciais”, permitindo “democratizar o acesso ao campo do conhecimento à volta de Eugénio de Andrade a todas as novas gerações, investigadores, simpatizantes com a obra”.

A visita à exposição, que, no Fundão, apresenta uma versão expandida e complementar, fruto da recolha de objetos pessoais pelos amigos do poeta, foi orientada pelos curadores, Jorge Sobrado e Rita Roque. Os objetos e os afetos, tal como o próprio Eugénio de Andrade em vida, de volta à origem, à raiz, e para sempre pertença do mundo. “Assim se faz o poema”.