Política

“Não podemos aceitar que o centralismo dominante subjugue a nossa voz”, afirma Rui Moreira na entrega das medalhas municipais

  • Paulo Alexandre Neves

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“O Porto também tem de entrar na equação de Portugal”, declarou hoje o presidente da Câmara do Porto, durante a cerimónia de entrega das medalhas municipais, que teve na Casa do Roseiral, nos jardins do Palácio de Cristal. Este ano, o Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, e a ex-ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, receberam a Medalha de Honra da Cidade, para além de outras individualidades e instituições, também agraciadas com medalhas de Mérito e Bons Serviços.

Num dia carregado de simbolismo para os portuenses – 9 de julho de 1832, em que o exército libertador de D. Pedro entrou na cidade e aqui viveu, com os portuenses, o terrível cerco –, o presidente da Câmara do Porto não deixou de evocar a “estrutura social e a proverbial resistência” dos seus habitantes, que impede que “Portugal seja uma soma de duas parcelas desiguais: a capital e a província”.

“Não podemos aceitar que o centralismo dominante subjugue a nossa voz. Não seremos cigarras, mas não queremos ser formigas ao serviço de uma voz de comando que não escolhemos, que não nos reconhece, que nos abafe”, sublinhou Rui Moreira, durante a sessão solene.

Citando um dos medalhados – o Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva –, acrescentou: “O Porto também tem de entrar na equação de Portugal. O Porto que não quer ser capital de nada, mas que exigirá sempre o seu justo quinhão”.

Referindo-se às e aos homenageados, bem como às instituições agraciadas com as medalhas municipais, o autarca lembrou que “não é vulgar que cada uma das escolhas, e a plenitude da lista, tenham sido aprovadas por unanimidade”, por todas as forças políticas com representação nos órgãos autárquicos. “Isto não resulta de nenhum poder hegemónico: é uma concordância invulgar mas, para os portuenses, natural. Porque esta cidade tem essa característica invulgar, resulta do reconhecimento comum, da afirmação irresoluta da sua cidadania”.

“A cidade quer-vos agradecer. E isso não resulta da amizade de um ou de outro, de uma teimosia, de um qualquer protecionismo, de uma paga de outro favor. E quem está verdadeiramente de parabéns é o Porto, por ter tantas e tantos em que se revê”, frisou Rui Moreira.

O "desafio gigante" da transição energética

Não querendo ser “advogado em causa própria”, o presidente da Câmara do Porto recordou que “se a pandemia serviu para alguma coisa, ela demonstrou que a cidade não vive bem de portas fechadas, de trancas à porta, e comprovou que a sua sociedade e a sua economia têm uma muito assinalável resiliência, que lhe permitiu recuperar rapidamente da súbita apneia”.

Rui Moreira deixou ainda um alerta para aquilo a que chamou de “desafio gigante” quanto ao futuro do Porto: o de garantir que cumpre a sua parte no desafio da transição energética, numa alusão ao Pacto do Porto para o Clima. “Não nos enganemos: uma cidade da nossa dimensão dificilmente pode fazer a diferença, a nível do planeta. Mas também é verdade que devemos ser percursores, inovadores e responsáveis”, constatou. Também no plano do empreendedorismo, referiu a importância das gerações mais jovens para a criação de riqueza e de valor para a cidade: “Aquilo que vamos ouvido, e que acalenta o nosso sonho, é que o Porto tem hoje a capacidade, e está a ser capaz de atrair talento humano”.

Ao mesmo tempo lançou um aviso: “O que seguramente não podemos fazer e não devemos querer, porque também de nada nos valeria, é voltar à discussão sobre quem é portuense e quem não é. Ou de temer que as nossas raízes e tradições serão perturbadas pelos nómadas digitais, ou por quem nos demanda para nos visitar ou aqui viver. É um tema que, muitas vezes, roça a xenofobia, e que quase sempre se alimenta na inveja. Até porque a cidade tem alma que chegue para dar e vender, e é realmente cosmopolita. Porque nos sentimos cidadãos do Mundo. Temos, seguramente, a capacidade e a vontade de encarar este desafio”.

Contando com a excelência inovadora da academia, do empreendedorismo do sector privado, com as estruturas culturais e desportivas da cidade, com as profissões liberais, com o terceiro sector, Rui Moreira exigiu mais atenção ao Porto: “Não podemos deixar que nos tolham a nossa liberdade para irmos mais longe e mais depressa. Não podemos aceitar que as insuficiências do Estado central nos afetem e, que este capture os nossos recursos, transferindo ineficiências e desdenhando as nossas capacidades. É em nome dessa preocupação que o Município do Porto, através de seus órgãos autárquicos, tem sido uma voz firme na defesa dos interesses dos seus munícipes e dos municípios em geral”.

Augusto Santos Silva e Isabel Pires de Lima recebem Medalha de Honra da Cidade

As medalhas municipais destinam-se a distinguir pessoas singulares ou coletivas, nacionais ou estrangeiras, que se notabilizaram pelos seus méritos ou feitos cívicos e ainda funcionários do município, pelo desempenho das suas funções ou missões.

Este ano, e sob a presença do Executivo Municipal, o Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, e a ex-ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, receberam a Medalha de Honra da Cidade das mãos do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e do presidente da Assembleia Municipal do Porto, Sebastião Feyo de Azevedo.

A Medalha Municipal de Mérito, grau ouro, foi atribuída a um conjunto de cidadãos e instituições, nomeadamente: Alexis Tam, Álvaro Domingues, Ana Cristina Pereira, António Alberto Xavier Guimarães (Becas), António Roquette, António Araújo, Carlos Prata, Francisco Ribeiro da Silva, Jaime Milheiro, Manuela Azevedo, João Paulo, Jorge Constante Pereira, José Leite Pereira, Julieta Guimarães, Lydia Silva, Manuel Dias Pinheiro, Manuel Monteiro, Manuel Ulisses, Fátima de Campos Ferreira, Maria José Ribeiro, Maria Teresa Lago, Mário Barbosa, Nuno Botelho, Nuno Ferrand, Paulo Magalhães, Rui Sarmento e Castro, Tomás Jervell e Wilson Faria.

A Associação das Escolas de Jesus, Maria e José, a CASO – Consumidores Associados Sobrevivem Organizados, o Centro Comunitário Cirilo, o Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), o Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP), o Colégio de Nossa Senhora do Rosário, a confeitaria Petúlia, o Ramaldense Futebol Clube, a relojoaria Mendonça e a tasca “Da Badalhoca” foram as entidades que receberam idêntico galardão.

A título póstumo foi atribuída também a Medalha Municipal de Mérito, grau ouro, ao ex-presidente da Junta de Freguesia de Campanhã, Ernesto Santos, Eugénio dos Santos, José Eduardo Pinto da Costa e Raúl Castro.

Já a Medalha Municipal de Bons Serviços foi entregue à funcionária municipal Maria do Céu Moreira, secretária da Presidência da Câmara Municipal do Porto desde 2003, e a Raul Matos Fernandes.

A cerimónia contou com dois momentos musicais, interpretados por alunos da Academia de Música de Costa Cabral. Já a leitura dos resumos curriculares dos homenageados foi feita por dois ex-alunos da Academia Contemporânea do Espetáculo.

Desde 2014 que a cerimónia de entrega de medalhas municipais acontece a 9 de julho, uma data simbólica que remete para a entrada na cidade do exército liberal liderado por D. Pedro IV (9 de julho de 1832) , a que se seguiu o cerco do Porto, que durou um ano. A essa heroica resistência da cidade e das tropas liberais de D. Pedro se deveu a vitória da causa liberal em Portugal e, a partir deste marco histórico, o Porto passou a ser nomeado como cidade Invicta.