Turismo

Município adequa estratégia do turismo aos desafios do pós-pandemia

  • Isabel Moreira da Silva

  • Notícia

    Notícia

mno_ribeira_turismo.jpg

Miguel Nogueira

É no sentimento de segurança, na defesa de práticas sustentáveis, na diferenciação da oferta de uma cidade policêntrica, com muito mais para descobrir para além do seu centro histórico, na cooperação com a Região Norte, e no investimento na cultura que o Município do Porto aposta para relançar o turismo no pós-pandemia. Há projetos que estão a ser ultimados e, sobretudo, uma nova estratégia que comunga de uma perceção transversal: o futuro do turismo nas cidades depende da sua capacidade de reinvenção.

O turismo, tal qual como o conhecíamos, não vai voltar a ser o que era - disso ninguém tem dúvidas. A pausa foi forçada pela pandemia, mas a oportunidade de repensar o setor, que em 2019 estava ainda em fase de expansão, é igualmente encarada como uma ocasião para rever o posicionamento da cidade face ao principal motor da economia local.

2021 será o ano de “tubo de ensaio” para a cidade do Porto, para o país e para o mundo, queira a pandemia abrir espaço a um regresso paulatino à nova normalidade. Por isso, é desde já tempo de repensar que turismo queremos ter daqui em diante. No Município do Porto esse trabalho de bastidores está em curso e se, por um lado, assenta em direcionar o turismo da cidade num determinado caminho, por outro, não ignora que o perfil do turista vai mudar.

Num artigo publicado na edição de hoje do Público (consulte aqui a versão online), o presidente da Câmara do Porto traça o diagnóstico. No verão do ano passado, diz Rui Moreira, começou a perceber-se a deslocação dos turistas que habitualmente visitariam o Porto para outras áreas, como o Alto Minho. “O turismo fora das cidades vai seguramente crescer”, afiança o autarca, convencido de que é preciso promover “um vaivém maior entre a cidade e a periferia”, cita o jornal.

Facto, aliás, ao qual não é alheia a aproximação entre a Associação de Turismo do Porto (ATP) e a entidade regional Turismo do Porto e Norte de Portugal, que em julho do ano passado lançaram a primeira campanha conjunta “O Norte Lá em Cima”, direcionada sobretudo para o mercado interno (mais recentemente, a campanha foi adaptada ao turista estrangeiro).

Essa visão de cooperação com a Região Norte é, para o autarca, um fator determinante na oferta de um novo produto turístico, diversificado. “Um produto-antena em que alguém possa ir a Arcos de Valdevez almoçar e regressar ao Porto à noite para aproveitar a movida e dormir”, clarifica. Estratégia essa que o Conselho Municipal do Turismo, reunido em pandemia, aprova.

Oferta diferenciadora voltada para as novas gerações

Rui Moreira tem dito que até 2025 a aviação não vai recuperar os níveis anteriores à pandemia. No ano passado, segundo dados oficiais do INE (Instituto Nacional de Estatística), as unidades de alojamento turístico em Portugal apresentaram um total de 26 milhões de dormidas. É preciso recuar ao início dos anos 90, até 1993, para encontrar níveis aproximados (23,6 milhões de dormidas).

Não há, por isso, ilusões de que nos próximos anos, seja possível recuperar os números anteriores à crise pandémica. O que não é necessariamente mau, confidencia o presidente da Câmara do Porto ao Público. “Por causa desta nova população que queremos atrair já não vamos conseguir atrair os turistas que vinham em grupos organizados à cidade. E se calhar não tem grande mal”. E explica porquê: “A ideia é criar novos ‘focos de interesse’, captando novos públicos. “Já não se virá cá [apenas] para ver o barco rabelo ou para tirar uma foto frente à Ponte Luís I.”

Esses novos públicos serão os da “geração Greta”, mais comprometidos com a sustentabilidade, razão pela qual a cidade também deve diferenciar-se como promotora de boas práticas nesse âmbito, defende Rui Moreira.

Para um turismo que designa "de sustentabilidade”, o autarca acredita que a cidade tem todos os ingredientes capazes de aguçar o apetite deste novo perfil de turista. Basta ver alguns dos “planos já em marcha na cidade, como a adaptação dos veículos da STCP a energia 100% renovável, o plano de requalificação dos parques e jardins ou a criação de ciclovias, como a que está projetada para o ramal da Alfândega”, enuncia ao jornal Público.

Além disso, continua a ser uma cidade segura, com níveis de criminalidade muito baixos, comparativamente a outros centros urbanos europeus de dimensão semelhante.

E, não menos importante, refere Rui Moreira, o turismo do Porto demarcar-se-á pela aposta contínua na diversidade de oferta cultural, que aliás enquanto presidente da Câmara do Porto tem vindo a defender como pilar de ação governativa dos seus mandatos. Não é por acaso que o Museu da Cidade está assente numa ideia policêntrica da cidade, com estações museológicas dispersas pelo território, com o intuito de movimentar os visitantes, como se de uma rede de metro se tratasse.

AL com certificação de sustentabilidade

Nas declarações ao Público, Rui Moreira revelou que o Município do Porto está a trabalhar uma medida que ajudará a essa diferenciação: a criação de uma “certificação de sustentabilidade” para o alojamento local (AL). “Acreditamos que vai haver muita procura pelo AL, se calhar maior relativamente aos hotéis”, afirma, sublinhando ainda que se estima já existir uma diminuição da oferta do alojamento local de “cerca de oito mil para cinco ou seis mil” registos.