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Movida ajuda reabilitação urbana do Porto revela investigação académica

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Miguel Nogueira

Uma tese de doutoramento da Universidade de Coimbra conclui que as dinâmicas noturnas na baixa e centro histórico do Porto funcionaram como um "catalisador" para a reabilitação urbana daquela zona da cidade, revela a Agência Lusa. Terça-feira, a Câmara do Porto vai aprovar novas regras para a gestão da noite.

A investigação a que a Lusa teve acesso e que hoje vem publicada em vários jornais online, sublinha que a formação de um ?party district' na baixa e centro histórico do Porto, com a criação e dinamização de espaços relacionados com o lazer, boémia e festa, funcionou como um elemento que "galvanizou a reabilitação urbana daquela zona", disse à agência Lusa a autora da tese, Cláudia Rodrigues.

Entre 2009 e 2014, a investigadora fez observação "três noites por semana", de forma sistemática, registando as dinâmicas da cidade "noctívaga", através dos seus espaços, personagens e vivências.

Os espaços noctívagos podem ser "considerados pioneiros na revitalização urbana daquela zona", sendo que o "party district" configurou-se e afirmou-se como tal "a partir de 2009", consolidando-se durante os anos em que Cláudia Rodrigues acompanhou as suas dinâmicas.

De acordo com a investigadora, "as grandes obras" protagonizadas pela Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) do Porto "também contribuíram" para a revitalização da baixa, que tornou o uso da rua "mais fácil", mas tudo começou "por iniciativas privadas mais localizadas ao nível da noite".

Com o vazio deixado pela Ribeira e Zona Industrial, houve "quase que um contágio" e "começou a concentrar-se" na baixa algum movimento e espaços noturnos, que entretanto aumentaram, não apenas em quantidade, mas também em variedade, nota.

Posteriormente, a própria dinâmica diurna ganhou outra dimensão, com um maior fluxo de pessoas e a existência de "mais lojas".

A investigadora encontra até uma "coincidência" entre "o regresso ao centro", com uma "neoboémia ligada às indústrias criativas e a revalorização do café", e a "boémia ligada às artes e letras, das tertúlias, livrarias e cafés", concentrada naquela zona no fim do século XIX.

De acordo com Cláudia Rodrigues, houve também uma "apropriação do poder local" das pequenas iniciativas privadas.

No entanto, a investigadora alerta para uma "quase mercantilização da noite" - aliás, "de quase tudo na cidade", nota, sublinhando que há o risco de "transformar estas zonas em parques temáticos de diversão".

Para além da possibilidade de mercantilização da noite, surgem também riscos ao nível da gentrificação e "turistificação" desta zona, face a uma "forma de gestão neoliberal das cidades, que se centra na captação de fluxos temporários e intermitentes e não se preocupa com os locais", que "se sentem quase colonizados pelo turismo e parafernália associada".

Apesar de todos os riscos, Cláudia Rodrigues encontra também nesta cidade "noctívaga" uma forma de promover "o comunitário, em contraponto com o individual", assumindo-se como um "espaço de libertação dos constrangimentos dos ritmos do dia", bem como de "emergência, de transformação e aprendizagens urbanas".