Habitação

Morro da Sé: os novos corações que pulsam no coração da cidade

  • Notícia

    Notícia

#fib_entrevista_casa_morro_se_01.JPG

Filipa Brito

As primeiras 14 casas reabilitadas pelo Município no Morro da Sé já estão habitadas. Para alguns destes moradores, viver em pleno Centro Histórico é uma experiência nova, mas para outros é um regresso às origens – como é o caso de Andreia Lobo, que se candidatou para realizar o sonho de voltar a morar no coração do Porto. Pretexto para uma conversa em que partilhou as emoções do regresso, do reencontro com a família, e as novas relações de vizinhança.

Se as ruas estreitas do Morro da Sé falassem, que histórias nos contariam? Pequenas alegrias, grandes amores, encontros e desencontros nos passos de todos, moradores ou visitantes, que por ali passaram. Seria uma narrativa com vários séculos, e cujo denominador comum são as relações de vizinhança, familiares, que ali se estabelecem – um diálogo de gerações, que é indissociável deste local que viu nascer a cidade Invicta.

É o coração do Porto que bate naquelas ruas. E fá-lo com renovado vigor desde agosto, quando começaram a ser ocupadas as primeiras 14 casas reabilitadas e disponibilizadas pelo Município, com rendas acessíveis, após o concurso levado a cabo pela Porto Vivo, SRU. “É importante a cidade regenerar a sua população”, sublinhou o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, na cerimónia de entrega das chaves.

Para alguns destes novos moradores, viver no Morro da Sé será uma novidade. Para outros, trata-se de um regresso às origens. É o caso de Andreia Lobo, que partilhou com o “Porto.” as emoções que viveu quando recebeu a notícia que era uma das contempladas no sorteio. “Senti que era o realizar de um sonho. Já estava há bastante tempo a tentar vir morar para o Porto, e quando vi que fui selecionada fiquei muito feliz”, confessa.

Nascida e criada no Morro da Sé, Andreia “cortou o cordão umbilical” quando decidiu casar com Paulo. “Optei por sair de casa da minha mãe. Apesar de querer ficar no Porto, não foi possível, devido aos valores das rendas. Fui viver para Rio Tinto com o meu marido. Somos os dois do Porto, mas foi ali que conseguimos arrendar casa”, conta a auxiliar de ação educativa, que, mesmo vivendo fora da cidade, continuou a trabalhar no Porto – e a alimentar a perspetiva de regressar.

“Foi uma grande alegria quando recebi a notícia. Ia conseguir o que realmente queria”, acrescenta Andreia, que desde agosto se reencontrou, novamente como residente, com as ruas por onde passou uma grande parte da sua vida: “Gosto da convivência das pessoas, gosto de tudo. Apesar de agora estar diferente do antigamente, para mim, morar no Morro da Sé, é estar no meu porto seguro”.

De braços abertos, para receber Andreia e a família, estavam a mãe e a avó da auxiliar de ação educativa: “Moram juntas, ali ao lado. É só subir a rua. Nem cinco minutos a pé”, sublinha.

Foi o fim de uma década longe do Morro da Sé. Durante esse período nasceram um menino e uma menina, o Rafael e a Gabriela, a quem Andreia sempre sonhou proporcionar a experiência que ela própria tinha tido – crescer em pleno Centro Histórico. A janela de oportunidade abriu-se, um dia, quando soube do concurso para atribuição das casas reabilitadas: “Uma colega viu no site da Porto Vivo, SRU, e como sabia que eu queria muito vir morar para o Porto, disse-me logo: Tens aqui a tua hipótese”. Andreia, admite, não pensou duas vezes. “Vi que estava dentro de todos os critérios, concorri, e pensei para mim: Eu vou conseguir”.

O facto de este concurso admitir candidatos que, não sendo residentes no Porto, trabalhassem na cidade, foi a porta de entrada para Andreia, que desde a mudança tem vindo a redescobrir o Morro da Sé e a conhecer os novos vizinhos: “Vamos falando, também com os comerciantes das lojas e dos restaurantes por ali acima. Um bom dia, boa tarde, está tudo bem?”

Para Rafael e a Gabriela, a adaptação foi simples. “Estão a gostar. É uma casa nova. E até me dizem: Ó mãe, fica mais perto da escola, é mais rápido”, conta Andreia, que agora se esforça por dar a conhecer aos filhos a cidade que também é deles: “Podemos descer a rua e estamos logo ali ao pé do rio. Temos feito umas visitas para eles conhecerem melhor o Porto. Temos tudo por perto. Estamos no coração da cidade”. E ali, onde bate o coração do Porto, bate também o dos seus novos habitantes.