Cultura

Mithkal Alzghair dança hoje a guerra e o êxodo sírio no Teatro Campo Alegre

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O Teatro Campo Alegre apresenta hoje, em estreia nacional, o
espetáculo de dança "Displacement" com que o coreógrafo e bailarino
sírio Mithkal Alzghair venceu a competição internacional "Danse
Élargie", organizada pelo Thêatre de la Ville de Paris e pelo Museu da
Dança/CCN Rennes.


 


A fechar o programa "Foco Deslocações", que põe o
dedo nas feridas das histórias de guerra testemunhadas através das artes
performativas, "Displacement" sobre ao palco pelas 21,30 horas e
resulta da pesquisa de Mithkal Alzghair sobre o património das tradições
culturais sírias, a fisicalidade, o transe e a dinâmica das repetições.


 


"Através da dança, tento compreender as fontes de que
emanam as danças tradicionais, o processo de impregnação e contágio em que são
construídas, tendo como base a realidade social e política", explica o
criador, referindo concretamente a herança militar, a ditadura, os regimes
autoritários, a revolução, a guerra e o deslocamento.


 


A justificação para este trabalho está na forma como é
transmitida a questão do deslocamento e da migração, da violência, dos
massacres, dos conflitos e das revoluções no Médio Oriente.


 


"O meu objetivo é definir a identidade do corpo sírio,
o património reconhecido, vivido e construído", aponta Mithkal Alzghair,
que, com "Displacement", deixa o público a bailar entre uma série de
interrogações pungentes: Qual a identidade de uma sociedade formada sob domínio
de uma ditadura colonial? Um corpo que viveu a guerra e um corpo que viveu a
migração são dois corpos diferentes? Onde está o espaço de liberdade para esses
corpos?


 


Para o criador, e não só, é urgente e necessário mostrar ao mundo
a realidade do conflito sírio, como esperança para uma liberdade plena e
futura.


 


Nesse sentido, o "Foco Deslocações" dedica ainda
hoje outros momentos à temática do ficar e partir levantada pela guerra,
começando com o encontro de entrada livre "Registo e Refúgio", entre
as 15 horas e as 17 horas, no Café-Teatro Campo Alegrre, em que participam
Mithkal Alzghair, a cantora, autora e coreógrafa ruandesa Dorothée Munyaneza,
também ela vítima da guerra, e ainda Isabel Galvão (professora do Conselho
Português para os Refugiados) e Golgona Anghel (escritora e investigadora, sob
moderação do jornalista Pedro Santos Guerreiro (diretor executivo do semanário
Expresso).


 


Segue-se, às 18,30 horas, a exibição de "Água Prateada
- um auto-retrato da Síria", em que Ossama Mohammed e Wiam Simav Bedirxan
apontam a objetiva à dignidade no palco da guerra. E, após a dança de Mithkal
Alzghair, às 23 horas, a música ao vivo toma conta do Teatro Campo Alegre
novamente com Dorothée Munyaneza que, desta vez, apresenta um projeto ancorado
na memória de um povo esquecido - o seu e o dos outros.