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Maioria do Executivo municipal manifesta solidariedade com o povo da Ucrânia

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Três dos textos de condenação à agressão militar submetidos à apreciação do Executivo municipal foram aprovados, tendo sido rejeitada a moção da CDU: “Estamos em trincheiras diferentes”, frisou o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira. Conjunto de medidas “Somos Todos Ucrânia”, iniciativa dos municípios da Frente Atlântica, recolheu unanimidade.

A situação que se vive na Ucrânia desde 24 de fevereiro marcou o período antes da ordem do dia da reunião pública de Executivo desta segunda-feira. Foram apreciados quatro votos e moções relacionados com o ataque militar russo, tendo três deles (do movimento Rui Moreira: Aqui Há Porto, do Partido Socialista e do Bloco de Esquerda) sido aprovados por maioria ou unanimidade. Apenas o texto submetido à votação pela CDU foi rejeitado, após um longo debate que tornou evidentes as diferenças que separam as forças políticas.

“Há três recomendações que vão mais ou menos no mesmo sentido, e há uma que diverge profundamente na análise do que se está a passar. Estamos em condições de votar favoravelmente a moção do PS, a do BE também não nos deixa qualquer divergência, mas não nos revemos na versão que a CDU apresenta do que se está a passar na Ucrânia”, vincou Rui Moreira, numa primeira fase do debate em que, por sugestão do vereador Vladimiro Feliz (PSD), se equacionava a hipótese de haver consenso numa proposta única, na qual todos se revissem.

Numa posição que foi acompanhada pelos vereadores com pelouro, o presidente da Câmara do Porto reiterou que “estamos a falar de um caso particular. Uma invasão de um país amigo, por uma força invasora. Não há uma guerra, há uma invasão. Há um conjunto de crimes de guerra que estão a ser cometidos. Não tenho nenhuma condição para votar favoravelmente a proposta da CDU.”

“O PCP não defende uma questão ideológica, está a branquear a invasão de um país a outro país. Está interessado na destruição da nossa civilização. Estamos em trincheiras diferentes. Somos contra a vossa visão”, frisou Rui Moreira, considerando estar em causa “o não-reconhecimento que a Ucrânia tem uma existência”.

“Intransigência”

“Mais do que a invasão, é a tentativa de absorção étnica do povo. Isso é pior do que tudo. Nós, durante centenas de anos, fomos alvo desse tipo de ameaça. Existe uma Ucrânia, um povo e tradições ucranianas, uma história ucraniana, e é desse lado que nos colocamos”, notou Rui Moreira, não se coibindo de admitir a sua “intransigência”. “Há linhas vermelhas. Somos intransigentemente a favor dos acordos internacionais.”

Um dos pontos que gerou mais oposição foi o facto de o texto da CDU nunca se referir à situação da Ucrânia como uma invasão, nem nomear a Rússia como agressor.

As restantes forças representadas no Executivo municipal falaram, quase todas, a uma só voz. “Estamos em sentido divergente. Somos todos favoráveis à paz, mas que não seja uma capitulação”, explicou Tiago Barbosa Ribeiro para justificar o voto contra do PS ao texto da CDU.

“Votaremos favoravelmente todas as moções à exceção da CDU”, afirmou Alberto Machado, do PSD.

A independente Catarina Santos Cunha disse rever-se “nas palavras de todos os vereadores”: “Não poderei votar favoravelmente a proposta da CDU.”

Pelo BE, Maria Manuel Rola votou favoravelmente ao texto da CDU. “Estamos a falar de uma invasão que aconteceu em território ucraniano, pelo governo russo, e que todos condenamos. Apoiar os refugiados é o caminho”, sublinhou.

Ilda Figueiredo realçou que a CDU “discorda desta guerra, desta invasão se quiserem, como discorda de todas as guerras”. “É fundamental neste momento tentar parar a guerra, um cessar-fogo imediato”, acrescentou a vereadora, elencando “três aspetos fundamentais: condenar a guerra, apelar a um cessar-fogo imediato, e apoiar as vítimas da guerra.”

O “Voto de condenação pela agressão militar e invasão da Ucrânia pela Federação Russa”, apresentado pelo PS, e o “Voto de solidariedade com o povo ucraniano e pela implementação urgente de medidas de apoio e acolhimento a pessoas refugiadas e de sanções contra a oligarquia russa”, do BE, foram aprovados por unanimidade.

A moção “Condenação do ataque militar da Federação Russa à Ucrânia e congratulação à União Europeia e à NATO pela intransigente defesa das sociedades democráticas”, avançada pelo movimento Rui Moreira: Aqui Há Porto foi aprovada com os votos contra da CDU e BE.

Já a moção da CDU “Parar a guerra. Dar uma oportunidade à paz” foi rejeitada, tendo recolhido apenas os votos favoráveis da CDU e BE.

Medidas de apoio da Frente Atlântica

Já no período da ordem do dia, o conjunto de medidas “Somos Todos Ucrânia”, iniciativa dos municípios da Frente Atlântica – Porto, Vila Nova de Gaia e Matosinhos –, recolheu a unanimidade do Executivo municipal. “Quero saudar o esforço da vereadora Catarina Araújo e do meu chefe de gabinete na articulação política desta matéria. A Frente Atlântica não tem orçamento, não tem estrutura, funciona por articulação entre os três presidentes. Temos a sorte de a Ucrânia ter uma representação diplomática no Porto e haver uma associação muito ativa de ucranianos residentes em Portugal”, congratulou-se Rui Moreira.

“Valorizamos o esforço desta iniciativa, das autarquias envolvidas, e da sociedade civil. Está em causa uma das maiores vagas de refugiados na Europa desde o fim da II Guerra Mundial”, notou o socialista Tiago Barbosa Ribeiro. Pelo PSD, Vladimiro Feliz elogiou o “esforço de articulação com os municípios limítrofes e as autoridades ucranianas.”

Maria Manuel Rola, do BE, considerou a iniciativa “essencial”. “Poderia ser o mote para passarmos a ter o plano de integração de migrantes”, acrescentou. “Estamos seriamente preocupados com toda esta situação. Esta proposta intervém em vários planos e parece-me correta”, disse Ilda Figueiredo.

A independente Catarina Santos Cunha associou-se à proposta saudando “todo o trabalho” desenvolvido para materializar as medidas.

A campanha “Somos Todos Ucrânia” procura organizar as manifestações de apoio, em particular na oferta de bens, serviços, emprego e acolhimento para todos os refugiados da invasão da Ucrânia. Mais detalhes sobre esta resposta humanitária estão disponíveis em www.somostodosucrania.pt ou através do número 222 090 420.