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Luz do Porto já dá energia aos bombeiros e às escolas. Aposta municipal só desliga na burocracia

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Na manhã de uma sexta-feira de sol, o quartel do Regimento de Sapadores Bombeiros (RSB) já contava com 4.103 kWh de energia limpa, mais de metade da que a corporação consome, produzida na última semana. Tudo graças aos 458 painéis fotovoltaicos que agora cobrem as instalações. Ao mesmo tempo, ali perto, na Escola do Bom Pastor, a energia vinda da luz do sol é motivo para uma competição – saudável e didática – entre os mais novos. O projeto Porto Solar representa, até ao momento, um investimento – inteiramente municipal – de 722 mil euros em 2.327 painéis fotovoltaicos instalados em 29 edifícios. E mais seria a energia renovável consumida na cidade, não fossem os entraves burocráticos.

"Há uns anos, a preocupação era que as cidades consumiam muita energia. Hoje, conseguimos compreender, através desta nova tecnologia, que as cidades vão ser produtoras de energia e isso tem enorme relevância", considera o presidente da Câmara do Porto.

Com cinco mil metros quadrados de painéis instalados apenas no âmbito do Porto Solar, Rui Moreira sublinha a importância de, "através do investimento público, conseguirmos substituir as energias por uma energia limpa que é produzida por nós".

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Além das questões ambientais, o presidente recorda que "estes são investimentos muito produtivos porque a poupança de energia paga, muito rapidamente, o investimento". Em média, 30% do consumo nestes edifícios virá de energia renovável. E só no quartel do RSB, o município prevê uma poupança anual superior a 20 mil euros.

Para atingir o propósito de "conseguirmos que esta energia nos sirva para todas as nossas necessidades", diz Rui Moreira, era apenas necessário fazer "avançar a tecnologia de baterias" que permitiria a "produção de energia noturna".

Podíamos ter feito cinco vezes mais do que já fizemos e recorrendo apenas à nossa capacidade de investimento”

Além destes edifícios, os mais de 2.300 painéis fotovoltaicos estão a produzir energia nas coberturas de outras 24 escolas, da Polícia Municipal, do Viveiro e das oficinas, no Carvalhido. Ao todo, o potencial de produção anual atinge 1,6 GWh.

Mas podiam ser ainda mais. Isto porque, "para conseguir a neutralidade carbónica em 2030", há mais de um ano o Município do Porto instalou painéis fotovoltaicos no Bairro Agra do Amial para ali criar uma comunidade energética, mas os moradores continuam sem poder utilizar essa energia renovável para consumo próprio.

"Não estão a receber por uma única razão: porque estas comunidades energéticas têm que ser autorizadas e temos, hoje, uma enorme inoperância e burocracia que têm atrasado, brutalmente, esse desígnio", explica o vice-presidente da Câmara do Porto.

Devido à falta da autorização da Direção Geral de Energia, Filipe Araújo sublinha que "os painéis estão a produzir energia e ela está a ser injetada na rede sem ninguém a utilizar. É totalmente desperdiçada".

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O também responsável pelo Ambiente e Transição Climática lembra que "estamos a falar de um bairro social, de pessoas que teriam, certamente, um benefício enorme em ter alguma da sua energia proveniente de energias renováveis", que são mais baratas do que a tradicionalmente produzida.

O objetivo do Município, afirma, "era pegar nos cerca de seis milhões de euros de investimento próprio e alargar essas comunidades a todos os bairros sociais da cidade".

O presidente da Câmara acrescenta que "podíamos ter feito cinco vezes mais do que já fizemos e recorrendo apenas à nossa capacidade de investimento". Sendo "um bom negócio para os municípios e para os munícipes", Rui Moreira considera que "esta é uma daquelas matérias em que, claramente, deviam passar competências para as áreas metropolitanas ou para os municípios".

Gamificação sensibiliza alunos para a importância da energia renovável

Alheios a burocracia, os alunos da Escola do Bom Pastor garantem já saber "tudo" sobre como funcionam os 52 painéis fotovoltaicos e qual a importância do consumo de energia limpa. "Quase tudo, vá".

Ali, a energia produzida equivale a 98 horas a ver desenhos animados, 18 horas a andar de trotinete ou quase três mil horas de videojogos. Mas, mais do que isso, coloca-os, para já, no primeiro lugar do "ranking" das escolas que já fazem parte do Porto Solar.

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Com ecrãs instalados, a ideia é que vejam, em tempo real, os valores de produção e consumo de energia a partir da luz do sol, em comparação com as outras escolas, incentivando a uma maior consciência ambiental e à adoção de comportamentos sempre mais sustentáveis.

"E se não fizer sol?", perguntam. "Colocamos aqui umas bicicletas e vocês produzem energia a pedalar", sugere o presidente da Câmara. O importante é continuarem no topo da tabela.

"Envolver as novas gerações nesta preocupação também passa por eles, nos espaços onde estão durante o dia, perceberem o que está a acontecer e que o sol é uma fonte enorme de energia limpa", considera Rui Moreira.