Mobilidade

Lançado concurso público para ligar de metrobus a Boavista à Foz em 2023

  • Cláudia Brandão

  • Notícia

    Notícia

Serão oito quilómetros em mobilidade verde que, a partir do último trimestre de 2023, poderão ser feitos através da nova linha BRT (Bus Rapid Transit). A nova extensão do serviço da Metro do Porto, cujo concurso público internacional foi lançado na manhã desta terça-feira, no Parque de Serralves, pelo primeiro-ministro, António Costa, vai ligar as rotundas da Boavista e da Praça do Império, num investimento que ascende aos 66 milhões de euros, financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Para o presidente da Câmara do Porto, a linha que vai ligar a Foz ao centro da cidade, em articulação com as restantes linhas previstas, “não é o 'pré-metro', é mais do que isso. É olhar para a cidade e perceber que, na sua intermodalidade, precisa de ter as soluções mais adequadas”. Rui Moreira acredita que a linha BRT “representará ganhos muito significativos de atratividade metropolitana, já que promoverá a expansão da rede de metro num espaço territorial muito denso, abrangendo uma população que poderá ir aos 600 mil habitantes”.

Rui Moreira sublinhou que “a rede de metro do Porto constitui uma infraestrutura de transportes geradora de um alto padrão interno de mobilidade, liderando em termos de capacidade e de estruturação dos canais de alta capacidade, cabendo aos municípios apostar nos sistemas complementares por forma a servir eficazmente as suas populações”, dando como exemplo a intermunicipalização da STCP.

Lembrando o investimento nos modos suaves, o presidente afirmou que o Município do Porto vai apostar na “criação e desenvolvimento de um conjunto de Corredores de Autocarros de Alta Qualidade”. “Estamos a tentar mudar os hábitos e se as pessoas não voltarem a andar de transportes públicos não vamos resolver esta equação”, afirmou.

Rui Moreira não deixou de lembrar que esta ligação Boavista-Império corresponde “a um desafio político do Município do Porto em alternativa ao eixo do Campo Alegre cuja construção, em regime de BRT, representaria uma profunda alteração da sua envolvente”.

No mesmo sentido, o presidente da Metro do Porto salientou o facto de esta solução ser “menos intrusiva, mais adaptável ao contexto e que respeita as vivências dos espaços”, nomeadamente a fluidez de trânsito na Avenida da Boavista, mas também na questão ambiental com a manutenção do corredor central da Marechal Gomes da Costa e do arvoredo.

O presidente da empresa Metro do Porto, Tiago Braga, frisou que “este modo não é o parente pobre do metro ligeiro” e, beneficiando de um modo com bom serviço “ao nível da fiabilidade, frequência e cumprimento de horários”, “esta será mais uma oportunidade para afirmar a cidade e a Área Metropolitana do Porto como um polo de desenvolvimento a partir das mais disruptivas tecnologias e soluções de transporte, em busca de uma região mais hipocarbónica, inclusiva, diversificada e eficiente”.

Da Boavista à Foz em 15 minutos, 4.400 pessoas a cada hora

O BRT é um transporte rodoviário em canal dedicado e com prioridade sobre os outros modos. É operado por veículos movidos a hidrogénio, articulados, de piso rebaixado, com capacidade para 180 a 220 passageiros. Com uma frota de seis veículos em operação regular, estima-se que possam ser transportados 4.400 passageiros por hora e em cada sentido.

Desenvolvida ao longo das avenidas da Boavista e Marechal Gomes da Costa, a linha Boavista-Império terá uma frequência de cinco minutos, o que vai permitir uma viagem de e até à Foz em 15 minutos. A previsão é que, diariamente, mais 31 mil pessoas passem a utilizar esta solução mais sustentável.

São oito quilómetros (quatro em cada sentido) com paragem na Casa da Música, Bom Sucesso, Guerra Junqueiro, Bessa, Pinheiro Manso, Serralves, João de Barros e Império. As estações da Avenida Marechal Gomes da Costa terão o desenho do arquiteto Álvaro Siza. Na ligação entre as duas avenidas será criada uma rotunda, atravessada interiormente pelo canal BRT.

O investimento na empreitada da rede de metrobus é na ordem dos 45 milhões de euros, a que se acresce o equipamento de apoio e o fornecimento dos veículos, cujo concurso público será lançado durante o mês de outubro. No total, o PRR pagará os 66 milhões de euros da nova ligação Boavista-Império. Com o arranque da obra previsto para maio de 2022, esta forma de mobilidade sustentável deverá entrar em funcionamento no último trimestre de 2023.

Investir no que muda a vida e a cidade

Com uma mensagem focada na importância de encontrar soluções para o combate às alterações climáticas, mas também na recuperação pós-pandemia e na implementação do PRR, o primeiro-ministro deixou a certeza de que “se queremos mesmo recuperar a economia hoje, se queremos mesmo combater o desemprego hoje, temos que o fazer investindo naquilo que muda a nossa vida, o nosso país, a nossa região, que muda a cidade nas próximas décadas”.

Para António Costa o investimento nesta linha BRT “é mais um dos investimentos que vai fazer essa mudança, contribuindo, não só para animar a economia hoje, mas sobretudo para termos um futuro mais descarbonizado e mais sustentado”.

Em representação do ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, o secretário de Estado da Mobilidade ressalvou que “o exemplo dado pela Câmara do Porto e pela Metro do Porto é algo para ser adotado” quanto ao respeito integral pelo espaço público, ao cumprimento das metas carbónicas e a projetos “que verdadeiramente servem a população”. Eduardo Pinheiro acredita que “outras cidades irão adotar o BRT”.

Em março, numa cerimónia nos Jardins do Palácio de Cristal, já tinha sido dada luz verde para o arranque das obras da Linha Rosa e da expansão da Linha Amarela. Na altura, o presidente do conselho de administração da Metro do Porto disse que a Linha Rosa vai permitir retirar, anualmente, “quatro mil toneladas equivalentes a CO2, 21 mil automóveis particulares e cerca de mil pesados”, além de “desembaraçar um dos eixos mais congestionados da cidade do Porto: Júlio Dinis - Santo António – Aliados”.