Cultura

Júlio Pomar vai refazer os frescos do Cinema Batalha destruídos pela PIDE

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Rui Moreira revelou esta noite em Assembleia Municipal que o
artista Júlio Pomar foi convidado por si e aceitou refazer os frescos que
existiam no Cinema Batalha e que foram destruídos pela PIDE no antigo regime. O
presidente da Câmara fez o anúncio numa altura em que a assembleia debatia o
contrato de aluguer que permitirá à autarquia intervir no histórico e
classificado edifício e torná-lo na casa do cinema do Porto.


O autarca anunciou ainda que já obteve das conversas que tem
mantido com o Ministro da Cultura um acordo para que haja um protocolo com a
Cinemateca Nacional, satisfazendo desta forma uma velha ambição portuenses.


Questionado pelo deputado comunista Honório Novo sobre a
razão pela qual a Câmara optou por um aluguer e não pela compra do edifício,
Rui Moreira esclareceu que a família proprietária não estava interessada e que
o prazo de 25 anos permitirá à autarquia amortizar o investimento, sem
problemas.



Os frescos de Júlio Pomar, que durante mais de 50 anos estiveram escondidos nas paredes do Cinema Batalha, podem ter sido irremediavelmente danificados por uma intervenção realizada há poucos anos. O alerta foi dado, em 2006, à comunicação social, por Alexandre Pomar, filho do pintor, segundo o qual os técnicos encarregados de determinar se os frescos podiam ou não ser recuperados terão destruído parte dos mesmos.


Os dois frescos, alusivos às festas de São João, começaram a ser pintados em 1946, tinha Júlio Pomar apenas 20 anos. Em Abril do ano seguinte, o artista foi preso juntamente com outros membros do Movimento de Unidade Democrática, de oposição ao regime salazarista. O Batalha, projectado pelo arquitecto Artur Andrade, foi inaugurado em Junho de 1947, com as pinturas ainda por acabar e apenas em Outubro desse ano é que Júlio Pomar pôde concluir os dois frescos: o maior com cerca de cem metros ocupava parte significativa do foyer principal do edifício e o mais pequeno foi pintado numa parede junto ao balcão do cinema, no andar superior. Ambos foram mandados tapar sete meses depois, em Junho de 1948, pela censura salazarista, que lhes apontou conotações políticas dissonantes do regime. 


A sua reposição ou reconstrução ficará, assim, a cargo do próprio artista.