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Jovens do Arco Maior entrevistam Rui Moreira: “Sempre quis ser político ou queria ser jogador da bola?”

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O presidente da Câmara do Porto foi o entrevistado convidado de uma iniciativa promovida pelo Arco Maior, a “escola de segunda oportunidade” que trabalha com jovens em regime de abandono escolar. De perguntas em riste, e inspirados pelos temas que mais lhes tocam, os alunos puderam ficar a conhecer Rui Moreira para lá das funções de autarca.

“Por que razão se candidatou a presidente da Câmara do Porto?”, começaram por questionar os jovens jornalistas. Em entrevista na Casa do Roseiral, na manhã desta quarta-feira, Rui Moreira confessou que o fez porque “achei que era altura de devolver à cidade o que me tinha dado, a sorte que tive”.

“Nunca me tinha passado pela cabeça ser político, queria era fazer desporto”, admitiu, ao que os alunos atiraram: “Queria ser jogador da bola?”. E Rui Moreira não se acanhou: “Claro! Todos nós já quisemos, mas não tinha jeito”.

Entre os temas com os quais os jovens mais se identificam, surgiu o das alterações climáticas. Para Rui Moreira, “a nossa capacidade de mobilização das pessoas para os comportamentos adequados é o grande desafio. Induzir mudanças de comportamento numa cidade é muito difícil”.

“Se me permite”, interrompeu uma das jovens, “acho que tivemos uma grande evolução nas escolas. É um trabalho que as crianças fazem muito bem: levar esses comportamentos para casa”. E o autarca concorda: “A grande pedagogia é feita pelos mais novos”.

“E quais os planos para tornar a cidade mais atrativa para os jovens?”. Rui Moreira escolhe o equilíbrio: o mais importante, para jovens ou não jovens, é criar oportunidades. Para a geração da minha mãe, é mais importante ser confortável. Para vocês é mais importante ser interessante”.

O presidente da Câmara do Porto ainda explicou aos alunos que “o mais difícil enquanto autarca é o tempo que as coisas demoram a fazer” e que os “problemas que mais afetam a cidade” são a toxicodependência e a “pobreza envergonhada”. Interessados e atentos, os jovens jornalistas trouxeram ainda à entrevista os temas da igualdade de género e do abandono de animais.

A sorte das segundas oportunidades no percurso escolar

Esta é a segunda vez que o presidente da Câmara do Porto se encontra com os jovens do Arco Maior, depois de uma visita em julho do ano passado. E os alunos quiseram saber a opinião do autarca sobre o projeto. “É apaixonante”, confessou Rui Moreira. “Único”, acrescentaram os próprios alunos.

“Mas depende de todos vocês”, continuou o autarca, “é um projeto muito comunitário e é importante que cada um tenha esse aspeto pedagógico em relação aos outros. Também passei uma altura da minha adolescência em que sentia que o mundo à minha volta era surdo. O Arco Maior tem essa vantagem, de vos ouvir e de vos motivar”.

Em 2021, a Câmara do Porto apoiou o Arco Maior com a atribuição de vinte mil euros e a cedência da Escola Básica de Noeda, em Campanhã, para ser um novo polo do projeto. Questionado sobre a motivação para este apoio, Rui Moreira assumiu que se articulava com “uma estratégia de inclusão, em que todos devem ter uma cidadania ativa”, defendida pela autarquia.

Coordenado pelo antigo professor catedrático da Universidade Católica do Porto, Joaquim Azevedo, o Arco Maior tem como missão dar oportunidade a jovens, sinalizados pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, entre os 14 e os 17 anos (em modelo PIEF) e entre os 18 e os 24 (em modelo EFA) de concluírem o 6.º, 9.º e 12.º anos de escolaridade.

Depois de conhecer o político, os jovens do Arco Maior puderam fazer perguntas mais pessoais a Rui Moreira, que não se coibiu de falar sobre a disciplina que mais gostava, o lugar preferido no Porto, talentos, atitudes mais excêntricas e mesmo signos e pequenas fobias.

E, até do seu percurso escolar “complicado”, com passagem “infeliz” por um colégio de padres e o “chumbo” no primeiro ano do liceu o presidente falou. “Eu ia muito mal preparado e era muito resistente nessa altura àquilo que era a escola. Depois tive a sorte de a minha avó e uma professora me darem a volta à cabeça. No ano seguinte, fui o melhor aluno da turma”, partilhou em jeito de empatia com o percurso dos jovens à sua frente, e deixando a mensagem: “Acreditem. Tenham confiança em vocês próprios. Não se esqueçam que ter sorte na vida dá imenso trabalho”.