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José Mário Branco abriu ontem a lista de convidados que leva hoje Mia Couto à Feira do Livro do Porto

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José Mário Branco abriu ontem a lista de nomes destacados da área cultural que, até ao próximo dia 23, vão passar pela Feira do Livro do Porto. Hoje mesmo, é a vez de Mia Couto, que participa num debate com Afonso Cruz e José Eduardo Agualusa.

A Avenida das Tílias e os Jardins do Palácio de Cristal - presença importantíssima no imaginário de José Mário Branco, como o próprio afirmou - ostentam desde ontem o nome do célebre autor, músico, cantor e produtor. A tília que lhe foi atribuída pela Câmara do Porto situa-se, não por acaso, em frente à Concha Acústica, enfatizando assim também a dimensão musical de José Mário Branco, o primeiro autor ali homenageado que não é estritamente do domínio das letras.

José Mário Branco afirmou o seu orgulho humilde por "de repente, ver uma árvore com o meu nome na companhia de pessoas mais importantes" (Vasco Graça-Moura, Agustina Bessa-Luís, Mário Cláudio e Sophia de Mello Breyner Andresen) e justificou ser essa uma das duas razões que o levou a aceitar o "convite irrecusável" do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, para estar pela primeira vez fisicamente presente numa homenagem a si próprio. A outra razão foi o facto de a Avenida das Tílias ser, desde a infância, "mítica para mim: era a Feira Popular, os carrosséis, os carrinhos, o algodão doce e as farturas". E recordou mesmo: "Quando vinha cá, eu já fazia a avenida a salivar".

Perante os elogios a si dirigidos, os quais se aprofundariam em mais dois eventos da Feira do Livro realizados ao final da tarde e à noite, o cantautor chamou a atenção para a ação individual em favor da comunidade e defendeu que "o que a gente faz é uma gota no oceano do grande caminho da Humanidade".

Por seu lado, o presidente da Câmara recordou a infância de José Mário Branco no Porto e sublinhou a ação social, política e artística, que viriam a colocar desde cedo "a música no centro de uma ação política, no centro da sua vida". Apontou, por isso, as facetas do compositor, poeta, cantor, ator e produtor musical e, entre "muitos momentos possíveis", lembrou a sua primeira música após o 25 de Abril, relacionada com a luta dos moradores dos bairros camarários, designadamente do Bairro de São João de Deus.

Rui Moreira recordou ainda alguns outros episódios que, nos 50 anos de carreira de José Mário Branco, evidenciaram a utilização da "palavra eloquente como arma", e concluiu ser por tudo isso que "humildes e honrados, nós os portuenses o homenageamos na sua cidade, no contexto da Feira do Livro 2018, onde a palavra escrita, dita, sussurrada, cantada e gritada tem o valor de um testemunho em prol da liberdade, em prol da autodeterminação de todas as mulheres, de todos os homens".

O homenageado participou em seguida numa conversa com Anabela Mota Ribeiro, inserida no ciclo municipal Um Objeto e seus Discursos por Semana, e mais tarde numa conversa/espetáculo a propósito do seu mais recente duplo CD "José Mário Branco, Inéditos (1967-1999)", numa coorganização da Associação José Afonso - Núcleo do Norte. Ambos os momentos seriam ocasião para, com muito humor e grande lucidez, partilhar inúmeras histórias, sempre perguntando se não estava a alongar-se demasiado, mas visivelmente satisfeito - tal como as centenas de pessoas que assistiam - por tal partilha. Ou, como repetiu, pelo "fluxo biunívoco" que garante ser também o que justifica a criação: "a obra artística não existe em si própria" e precisa para tal da relação com o recetor, da "recriação partilhada com a comunidade".

Programa vasto e variado até dia 23

Com José Mário Branco, teve início o extenso programa da Feira do Livro do Porto, traz desta vez à cidade variados nomes consagrados ou emergentes no campo das letras e outros, segundo uma programação assinada por Anabela Mota Ribeiro e José Eduardo Agualusa. Entre as mais de quatro dezenas de participantes e convidados destas duas semanas estão nomes como Leila Slimani, Daniel Cohn-Bendit, António Mega Ferreira, Luís Filipe Castro Mendes, Kalaf Epalanga, Mia Couto, José Riço Direitinho, Luísa Costa Gomes, Mário de Carvalho, João Ribas, Eduardo Cintra Torres, Capicua, André Tentúgal, Nuno Artur Silva, Francisco José Viegas ou Bernardo Carvalho.

Debates lições, spoken word, cinema, exposições, novos projetos, sessões especiais, inúmeras atividades de animação e educativas, todas de acesso gratuito e para os mais diversoso públicos de todas as idades, multiplicam-se nestas duas semanas nos Jardins do palácio de Cristal.  

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