Investigadores do Porto concluem que os portugueses falham nas perceções sobre os seus estilos de vida
Porto.
Notícia
Miguel Nogueira
De acordo com um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, a maioria dos portugueses tem perceções erradas sobre os seus próprios comportamentos e estilos de vida. Hábitos de alimentação, atividade física e consumo de álcool não são assim tão saudáveis e regrados quanto julgam.
Divulgado na revista científica International Journal of Environmental Research and Publich Health, o estudo da FMUP/CINTESIS alerta para erros no autodiagnóstico, apresentando discrepâncias significativas entre aquela que é a perceção e a prática.
A começar pela alimentação. “Embora 87% das pessoas considerem que têm hábitos alimentares saudáveis, apenas 14% ‘passam no teste’. Isto significa que 61,7% dos portugueses não se alimentam de forma saudável, mas estão convencidos do contrário”, assinala a FMUP em comunicado.
A investigação aponta também o engano relativamente à questão do peso. “Apenas 2,1% dizem ser obesos, quando, na verdade, 13,4% cumprem os critérios de obesidade definidos, e só 15,6% acham que têm excesso de peso, quando essa percentagem se situa nos 40,2%”.
Dados que merecem ainda reflexão ao nível da atividade física. Segundo concluem os investigadores do estudo liderado por Rosália Páscoa, “48,8% dos portugueses dizem que praticam atividade física regularmente, mas, se seguirmos as recomendações, tal só acontece em 28,9% dos casos”.
Por outro lado, a grande maioria dos portugueses (92,2%) pensa que não tem um consumo excessivo de álcool, mas os resultados mostram que 27,9% consomem mais álcool do que o recomendável.
“Os portugueses sabem que uma dieta saudável, atividade física regular e um sono de boa qualidade podem prevenir algumas doenças e que o consumo de tabaco e drogas ilícitas, o tempo excessivo de atividades de ecrã, o stress excessivo e ser sedentário podem causar ou agravar algumas doenças. O que falha é a forma como cada pessoa perceciona o seu próprio estilo de vida, ou seja, o seu autodiagnóstico”, afirma Rosália Páscoa, principal autora do trabalho, desenvolvido em conjunto com os investigadores Micaela Gregório, Rosa Carvalho, Andreia Teixeira e Carlos Martins.
A equipa concluiu ainda que a maioria dos portugueses considera importante a ajuda dos médicos de família na adoção de comportamentos e estilos de vida mais saudáveis, mas que a maior parte não beneficia deste apoio.
A avaliação do grupo de investigadores incidiu sobre uma amostra representativa da população portuguesa com idade igual ou superior a 20 anos. Os questionários presenciais realizaram-se entre janeiro e abril de 2019, em contexto anterior à pandemia. Os participantes tinham entre 23 e 85 anos de idade e 55% eram mulheres.