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Investigadores do i3S encontram possível explicação para desenvolvermos ou não sintomas da Covid-19

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Filipa Brito

Porque é que algumas pessoas desenvolvem sintomas graves pela infeção do vírus SARS-CoV-2 e outras pouco ou nada se apercebem da sua presença? Um estudo de uma equipa do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) pode ter encontrado a resposta nas alterações nos linfócitos T, as células responsáveis pela defesa do organismo contra agentes desconhecidos, que determinam a gravidade da doença.

O que os resultados do estudo do i3S, que contou com a colaboração do Centro Hospitalar Universitário do Porto e do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, primeiramente sugerem é que as células T circulantes trocam as moléculas de açúcar, os glicanos, de forma específica após a infeção com o novo coronavírus.

Segundo Salomé Pinto, líder da investigação, “essa mudança no perfil de glicosilação na resposta imunológica por linfócitos após infeção por SARS-CoV-2 parece ser desencadeada por um fator inflamatório presente no plasma dos indivíduos”.

O facto de essa alteração ser mais pronunciada em indivíduos assintomáticos do que nos sintomáticos, explicando a resposta imunológica, permitirá concluir que “as formas glicosiladas de linfócitos T conferem um maior nível de proteção contra o vírus”.

Em comunicado, a investigadora do i3S afirma que esse perfil pode ser detetado no diagnóstico, “o que significa que pode constituir um novo biomarcador de prognóstico e de gravidade da Covid-19, bem como um novo alvo terapêutico”.

Além disso, a equipa demonstrou que, nos doentes assintomáticos, as células monoculares do sangue contêm “uma expressão aumentada de uma proteína” que é capaz de reconhecer de forma mais eficiente o vírus. Esses níveis de expressão nas células inflamatórias da primeira linha de defesa, os monócitos, estarão relacionados com “um melhor prognóstico do doente”.

O i3S afirma que “ainda está por desvendar na sua totalidade” o papel destas células T na “resolução ou exacerbação da Covid-19”, bem como “o potencial para fornecer proteção a longo prazo contra a reinfeção” pelo novo coronavírus.

Além da associação à infeção pelo SARS-CoV-2, os primeiros autores do estudo, Inês Alves e Manuel Vicente, acreditam que “este mecanismo pode estar associado a outro tipo de infeções víricas respiratórias, o que abre novas oportunidades de investigação noutras doenças infeciosas”.

O estudo do i3S foi publicado na revista The Journal of Immunology, pertencente à Associação Americana de Imunologistas, e o artigo é destacado como um top reader da edição de setembro de 2021.