Cultura

Infinitas são as histórias que já se contam na Feira do Livro “à espera que o Pina chegue”

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Ao redor de uma casa desenha-se a amizade. A amizade-amor-companheirismo-aventura que, durante largos anos, e todos os dias ainda, une Manuel António Pina e Germano Silva. “Pina Germano” são as fotografias e os documentos, mas também as histórias, sempre as histórias, que se expõem aos olhos de todos, tantos amigos, os muitos que hão de visitar a Feira do Livro do Porto. No primeiro dia do festival literário, já passaram pelos Jardins do Palácio de Cristal mais de cinco mil pessoas. Todos “à espera que o Pina chegue”.

“Eu estava aqui a olhar, a olhar, a ver se via o Pina. Estou à espera dele. Continuamos à espera do Pina”. Com a mesa de matrecos à espera dos jogos que os divertiam, Germano Silva trouxe à inauguração da exposição um saco cheio das histórias de uma amizade com mais de quatro décadas: os atrasos para os jantares com hora marcada “porque havia muitas rotundas” e, afinal, já estavam em Felgueiras, as brincadeiras prontas com o apelido, as aventuras nas muitas saídas juntos do Jornal de Notícias, alguns “imponderáveis não muito agradáveis”, também.

O historiador e jornalista assume, com a verdade e a emoção da amizade, a “gratidão imensa” para com o homem em torno do qual gira a programação desta 10.ª edição da Feira do Livro do Porto. “É uma homenagem que ele merece. Uma homenagem que não é só do Porto, é universal, porque o Pina é um autor universal”. E o verbo que se conjuga sempre no presente.

Para Rui Moreira, “se isto fosse uma homenagem ao Pina em vida, ainda estávamos à espera dele”. No entanto, sublinha, “o Pina era uma pessoa por quem valia a pena esperar. Era um homem de uma dimensão universal, que cuidava das suas amizades”.

O presidente da Câmara do Porto acredita que “este foi o momento certo para o homenagear, vai ser um grande entusiasmo”. “Falar de Pina é uma coisa especial porque Pina era tudo: era jornalista, ensaísta, poeta, escrevia contos para crianças e fazia tudo bem”, afirma.

Entrar na exposição como numa casa onde se pode morar

Entrar na exposição “Pina Germano” é entrar “no amor como em casa”. Por entre memórias, epístolas, fotografias, pinturas, desenhos e alguns documentos inéditos, há “a textura das árvores, os reflexos do sol em dias de festa e o calor dos corais”, diz Rita Roque.

A curadora (em parceria com Jorge Sobrado, diretor do Museu e Bibliotecas do Porto) explica que “o desenho expositivo pretende abrir espaço ao convívio, dando força às raízes da amizade” entre os dois protagonistas, e mostra-se ao público “sem ordem nem desordem”.

Esta amizade - que, como escreve outro amigo, Álvaro Magalhães, “era como uma casa onde se podia morar” - pode ser testemunhada, na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, até ao dia 12 de janeiro de 2024.

Mais de cinco mil pessoas numa feira “que é diferente”

Fazendo questão de cumprimentar cada um dos 108 editores, livreiros e alfarrabistas que enchem os 130 pavilhões desta Feira do Livro, o presidente da Câmara do Porto mostrou-se satisfeito com o cenário que encontrou na tarde de sexta-feira: cerca de 5.500 pessoas já circulavam ao longo de toda a Avenida das Tílias, “o que, para um dia de abertura, é incrível” e os livreiros “estão satisfeitos”.

Rui Moreira lembra o investimento municipal para melhoria dos stands que, “são mais baixos, o que, para as pessoas com algumas dificuldades, os torna mais interessantes. Têm espaço de arrumos [e] são menos quentes porque não têm a parte de cima que fazia uma barraca”. Em caso de chuva, estão construídos com calhas “que é uma coisa rara num stand”.

“Acima de tudo, queremos que esta feira continue a ser aquilo que tem sido: diferente”, sublinha o presidente da Câmara, vendo a iniciativa como “um evento cultural onde as pessoas não se limitam a vir para comprar um livro que querem ou para aproveitar um saldo”. “Acho que as pessoas gostam muito, até porque é uma avenida que tem sombra, tem espaço para passear, e isso também é importante”, acrescenta Rui Moreira, lembrando como “o local foi, na altura, uma aposta muito arriscada, mas uma aposta ganha”.

Até 10 de setembro, há mais de uma centena de atividades nos Jardins do Palácio de Cristal para viver em torno da palavra. Há conversas, concertos, sessões de cinema e de humor e programas próprios para crianças. Há as histórias e há a amizade, essa “forma mais alta e mais desprendida do amor”. Disse Pina, por quem ainda todos esperam.