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Incidência de COVID-19 inferior a 2% entre utentes e funcionários de lares da cidade do Porto

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Miguel Nogueira


O primeiro programa sistemático de rastreio aos lares foi lançado pela Câmara do Porto, começou ainda em março e testou mais de 5 mil pessoas. Poucos idosos estavam infetados e 28, com teste negativo, foram transferidos para a Pousada da Juventude onde estão agora a cargo da Câmara. O Hospital de Campanha foi fundamental para permitir a separação de positivos e negativos que pode ter evitado uma catástrofe.

Rui Moreira apresentou hoje ao Executivo um relatório referente à luta COVID-19, que informou os vereadores acerca do programa de rastreio municipal aos lares da cidade. Segundo o documento, levado ao período antes da ordem do dia da reunião de Câmara, o número de infetados encontrados nas unidades residenciais no Porto rondou 1% do total da população.

O relatório informa que foram rastreadas em abril, por iniciativa da autarquia, apenas neste programa, 5174 pessoas (entre os quais 2064 era idosos e 572 cidadãos com deficiência, sem-abrigo ou jovens institucionalizados e com HIV e os restantes funcionários das instituições), tendo sido encontrados 1,7% de infetados no total dos 78 lares de idosos e apenas 0,5% entre utentes e trabalhadores de unidades residenciais para pessoas com deficiência, sem-abrigo ou jovens e infetados com VIH. Mas se forem considerados apenas os resultados entre os utentes, os números são ainda inferiores e apenas 1,4% dos idosos estavam infetados.

Na apresentação dos números, que são já finais, refere-se que o rastreio começou a 28 de março e que foi o primeiro programa de rastreio em Portugal, tendo sido também o único com a característica de ter incluído todos os lares e todos os utentes, independentemente de apresentarem ou não sintomas ou de terem tido qualquer contacto identificado.

O programa, que, também contrariamente a outros, previa que, sempre que fossem encontrados utentes infetados, a população positiva e negativa deveria ser separada, obrigou à deslocalização de 28 pessoas, com teste negativo, para a Pousada da Juventude, onde o Município montou um centro de acolhimento com todas as condições.

Também o Hospital de Campanha Porto., montado no Super Bock Arena - Pavilhão Rosa Mota, recebeu doentes oriundos dos lares e que precisaram de assistência. Segundo o relatório, a existência destes espaços, previamente preparados para dar resposta ao objetivo de separação foram fundamentais para evitar que nos lares permanecessem situações de convivência entre infetados e não infetados.

A explicação para o baixo número de infetados em lares no Porto, que é quase residual, resulta, segundo o documento, do bom trabalho realizado pela rede social da cidade, que muito cedo aplicou as recomendações de confinamento e distanciamento social, protegendo a população idosa institucionalizada, mas também ao desenvolvimento profilático do programa, que não apenas permitiu o diagnóstico muito precoce, como foi uma enorme oportunidade de formação das instituições e afastamento dos funcionários que testavam positivo.

A iniciativa municipal foi possível sem que tenham sido consumidos kits de testes PCR ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), numa altura em que eles escasseavam nos programas nacionais de identificação de infetados, graças ao donativo da Fundação Fosun e da Gestifute que fizeram chegar 5 mil kits de teste à Câmara do Porto, ainda em março.

O programa, definido pela Câmara do Porto, contou com a validação científica do Hospital de São João e com o apoio laboratorial dos Centros Hospitalares do São João, do Centro Hospitalar Universitário do Porto e do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho. O trabalho de recolha das amostras foi executado pelos dois Agrupamentos de Centros de Saúde do Porto (Oriental e Ocidental), tendo o Batalhão de Sapadores de Bombeiros assegurado o transporte dos utentes deslocalizados. As ações foram todas acompanhadas e orientadas pela Autoridade de Saúde Local com quem a autarquia trabalhou em estreita parceria.

O relatório indica ainda que, em consequência do programa de rastreios, foi encerrado um pequeno lar ilegal e totalmente desestruturado, onde a população de utentes e trabalhadores se encontrava com elevado grau de infeção.

A Câmara do Porto prepara agora a segunda fase do programa de proteção dos idosos e aguarda apenas as normas que a DGS vier a determinar para as visitas aos lares para proceder a um vasto programa de visitas, fornecendo EPIs aos familiares e idosos e promovendo ações de formação em todos os mais de 70 lares da cidade para que estas visitas não venham a provocar novos focos de infeção.