Cultura

"Ice Merchants", de João Gonzalez, está nomeado para os Óscares

  • Paulo Alexandre Neves

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Filipa Brito

Pela primeira vez, Portugal vai ter uma curta-metragem de animação nomeada aos Óscares. "Ice Merchants", de João Gonzalez, está na corrida à estatueta mais famosa da sétima arte, feito inédito para o cinema português. Em entrevista ao Porto., o jovem realizador portuense confessava, em junho, que o seu filme demorou cerca de um ano a produzir. "Se contar os dias seguidos demorou à volta de um ano, o que é pouco para um filme de animação. Com as pausas e pandemia levou dois", sublinhou, acrescentando: "neste caso, o custo foi o tempo".

Para além de "Ice Merchants" estão nomeados para o Óscar de melhor curta-metragem de animação "The Boy, the Mole, the Fox and the Horse", de Charlie Mackesy e Matthew Freud, "The Flying Sailor", de Amanda Forbis e Wendy Tilby, "My Year of Dicks", de Sara Gunnarsdóttir, e "An Ostrich Told Me the World Is Fake and I Think I Believe It", de Lachlan Pendragon.

Além de "Ice Merchants", na corrida a uma nomeação estavam também "O homem do lixo", de Laura Gonçalves, na categoria de melhor curta de animação, e "O lobo solitário", de Filipe Melo, para o Óscar de melhor curta-metragem, em imagem real, que não conseguiram uma nomeação

A cerimónia da 95.ª edição dos Óscares está marcada para 12 de março.

"A animação portuguesa está a viver um período muito bom"

João Gonzalez nasceu no Porto, em 1996. Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian fez o mestrado na Royal College of Art (Reino Unido), depois de terminar a licenciatura na Escola Superior de Media, Artes e Design (ESMAD) do Politécnico do Porto. Para além de "Ice Merchants", a sua primeira "curta" como profissional e já multipremiada em festivais internacionais de cinema, realizou, em contexto escolar, "Nestor" e "The Voyager", que, em conjunto, arrecadaram também mais de 20 prémios nacionais e internacionais.

Com "Ice Merchants" – 14 minutos de duração, produção portuguesa de Bruno Caetano, pela Cola Animation, e coprodução com França e Reino Unido –, João Gonzalez tornou-se também no primeiro realizador português de animação a ser premiado no Festival de Cannes, conquistando o Prémio do Júri ("Leitz Cine Discovery Prize") da Semana da Crítica. Seguiram-se nove distinções em festivais qualificantes para o Óscar da Academia norte-americana (Curtas Vila do Conde, Guadalajara, Melbourne, Chicago, St. Louis, Alcine, BendFilm, Anim’est e Spark), 41 outros prémios e menções especiais e mais de 90 seleções oficiais em festivais de todo o mundo, um cenário já histórico no cinema português. De acordo com a Agência da Curta-Metragem, o filme já foi visto por mais de 8.400 espectadores.

Sem diálogos, a "curta" tem como ponto de partida a imagem de uma casa numa montanha, debruçada num precipício. A partir daí, o realizador desenvolveu a história de um pai e um filho, que produzem gelo na casa inóspita onde vivem, e de onde saltam todos os dias de paraquedas para o vender na aldeia, no sopé da montanha. João Gonzalez assina a realização e a banda sonora do filme e divide a animação, em 2D, com a polaca Ala Nunu.

Na entrevista ao Porto., o jovem realizador portuense confessava: "A animação portuguesa está a viver um período muito bom. […] Não nos falta o reconhecimento internacional. Não sou, de todo, pioneiro. Sou só mais um que está a aproveitar o caminho desbravado pelos grandes nomes da animação nacional".