Cultura

Homenagem a Paulo Cunha e Silva recorda o homem sem tempo para o seu próprio desígnio

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O balanço dos 15 anos passados sobre o "Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura" foi pretexto, na noite passada, para uma sessão dedicada ao médico, Professor e programador cultural que entreteceu os públicos da Cultura no Porto.

O palco foi o de Serralves, uma das várias instituições onde Paulo Cunha e Silva deixou marca e que recebeu, nesta terça-feira, a última conferência do ciclo dedicado ao Porto 2001. O programa seguiu para além disso e da homenagem circunstancial, detendo-se em análises da ação de Paulo Cunha e Silva em várias frentes, mas de forma transversal como era seu timbre, e respetivas consequências para a cidade.

As suas "capacidade de sonhar e força enérgica para concretizar esses sonhos", de acordo com Ana Pinho, da Fundação de Serralves, deram o mote para um serão em que não faltaram adjetivos para descrever o caráter e a ação de Paulo Cunha e Silva: na vertente académica, de que falou Teresa Lacerda (Universidade do Porto); como programador da Porto 2001, lembrado pela então vereadora da Cultura do Porto, Manuela de Melo; enquanto coordenador científico e não só na Fundação de Serralves, como descreveu o então presidente da instituição, Luís Braga da Cruz; na condição de adido cultural da Embaixada de Portugal em Roma, de que deu conta o embaixador Fernando d'Oliveira Neves; e na condução do Pelouro da Cultura do Porto, elogiado por Rui Moreira.

"O pensamento vertiginoso do Paulo", nas palavras de Teresa Lacerda, tinha reflexos em todos os que o rodeavam, mas também na própria cidade. Depois de terminada a agitação do Porto 2001, e quando "a cidade ficou de ressaca" - expressão do presidente da Câmara -, "o Paulo refugiou-se em Itália e só veio de lá em 2013 pela convocação de Rui Moreira. Então, a sua energia criativa libertou-se", considerou Braga da Cruz. Para o antigo presidente de Serralves, que liderava a Comissão de Coordenação da Região do Norte em 2001, Paulo Cunha e Silva foi um homem "elegante, leal, impaciente, pragmático, mas construtor de pontes". Contudo, a melhor forma que Braga da Cruz encontrou para o definir foi enquanto homem "que parecia não ter tempo para cumprir o seu próprio desígnio".

"Uma pessoa absolutamente brilhante"

"Esta pessoa absolutamente brilhante viu no Porto 2001 os ensaios gerais para o que viria a fazer uma década depois na cidade", apontou por seu lado Rui Moreira, lembrando o episódio em que o seu ex-braço direito entrou em sua casa "aos saltos porque ia conseguir trazer o Salman Rushdie ao Porto!".

No entanto, "ele via tudo sob várias perspetivas, como quem faz um scan da situação", o que conferia ao vereador falecido em 11 de novembro de 2015 uma visão de longo alcance que lhe permitiria atingir o objetivo da transversalidade dos públicos.

"O Paulo nunca esquecia o Porto 2001 e queria ir mais longe", nomeadamente ao "ganhar para a Cultura públicos que não eram habituais", disse ainda Rui Moreira. O presidente explicou a capacidade que o seu ex-vereador teve, primeiro na Porto 2001 e depois com mais alcance ainda na Câmara, de "dar a possibilidade às pessoas de provarem coisas de que nem tinham a noção que eram cultura. Ou seja, entreteceu os públicos", concretizando o seu grande desiderato de aplicar a transversalidade a tudo o que o rodeava, ao mundo.

Manuela de Melo, que ao longo de sete meses coordenou as conferências de balanço da Porto 2001, numa iniciativa do Círculo Dr. José de Figueiredo/Amigos do Museu Nacional de Soares dos Reis, resumiu: "Paulo Cunha e Silva cruzou as coisas mais inacreditáveis com resultados excelentes".