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Hoje, como há 50 anos, o Porto democrático faz a "Revolução, Já!"

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50 anos depois do 25 de Abril, o Porto continua a reclamar "Revolução, Já!". Cidade democrática e de liberdade propõe um programa de pensamento e participação, de criação artística e literária, com carácter público, procurando inscrever a ideia e a experiência de revolução num sentido de emergência e futuro. O comissariado e a liberdade das comemorações foram entregues a Jorge Sobrado e José Augusto Bragança de Miranda.

Meio século depois de Abril, não haverá, no Porto, "nenhuma sessão solene, vamos celebrar todos, ser todos iguais, como é próprio de uma revolução. Vamos celebrar na rua, em todo o lado", garantiu o presidente da Câmara, na apresentação da programação, na manhã desta quinta-feira, no Palacete dos Viscondes de Balsemão.

O local não foi escolhido ao acaso, ou não tivesse sido ali, na Praça Carlos Alberto, que o general Humberto Delgado, candidato presidencial antirregime, teve, em 1958, uma receção apoteótica da parte dos portuenses.

"É celebrar Abril da forma que Abril merece ser celebrado", acredita Rui Moreira, afirmando que as comemorações deste dia, na cidade, "são sempre celebrações que nos entusiasmam". Ao contrário de outros locais onde, considera, "são extremamente maçadoras" e "bastante previsíveis".

O presidente da Câmara sublinhou a ideia de que "uma revolução não é uma revolta. A revolução tem, por si, uma ligação muito forte à cultura" e foi esse o norte da programação no Porto.

"Não esquecendo o património que a cidade tem nas revoluções", o programa dos 50 anos é "muito diferenciador", mostrando como, na Invicta, a cultura continua a estar no epicentro, a receber "a maior das importâncias", inclusive em matéria de "liberdade curatorial", considera Rui Moreira. "O pilar das nossas políticas tem que ser a cultura, porque é isso que nos diferencia", reforça.

Revolução em três pilares: Poesia, Imagem e imaginários, e Pensamento contemporâneo

Para Jorge Sobrado, "celebrar uma revolução como Abril significa recobrar algum do seu entusiasmo inicial – o entusiasmo é o primeiro sinal de uma revolução – e viver-se, outra vez, mais na rua do que em casa".

O comissário, e também diretor do Museu e Bibliotecas do Porto, referiu que o programa assenta em três pilares: poesia, imagem e imaginários, e pensamentos contemporâneos.

"O Porto, como consciência política coletiva, como cidade líquida e aberta, é propulsor do interesse de pensar, de interrogar, imaginar e participar", sublinhou, explicando que o "grito" das comemorações – "Revolução, Já!" – surgiu do "desejo de ação, de reinscrever o pensamento, o sonho no nosso campo de trabalho e no tecido social cívico da cidade".

"Interessa-nos Abril na medida em que falemos do tempo presente", afirma Jorge Sobrado, ressalvando a necessidade – a vontade – de participação de todos para fugir a um "ajuste de contas com a revolução" e viver a contemporaneidade.

Já José Bragança de Miranda admite acreditar que "não seria possível fazer um programa destes, ambicioso, em muitas cidade do país". "Pensar 50 anos não é revisitar o 25 de Abril. É pensar o que fizemos e pensar o futuro. É pensar o que é isso de revolução", afirma.

"A revolução não é futura, está em curso, e assume uma infinidade de formas", sublinha José Bragança de Miranda, considerando-a "a possibilidade de tomarmos a História nas mãos em vez de sermos as vítimas".

Regressa o Fórum do Futuro e sai a poesia à rua

Do programa "Revolução, Já!", destaque para o regresso do Fórum do Futuro em dez conferências sobre revoluções em curso, um lugar de pensamento contemporâneo, aberto e arrojado, com pilares na filosofia, na história, na ciência e na teoria política.

Também a poesia terá lugar de destaque nas comemorações com o convite feito a 50 autores para que criassem um poema inédito. A missão é, além do lançamento de uma publicação, a de pulverizar frases poéticas pela cidade.

"Outras Revoluções" é um ciclo de cinema sobre revoluções "outras geografias e de outros tempos históricos, a que acresce as revoluções do próprio cinema" e "Cinema de Revolução" uma exposição a visitar no Cineclube do Porto. Na Casa do Infante será possível aceder ao acervo de periódicos da Revolução e a filmes de época.

E porque se fala de liberdade, a literatura e a escrita, a fotografia e o vídeo, assim como a cerâmica e a pintura vão chegar às alas prisionais da Polícia Judiciária e do Hospital Magalhães de Lemos.

Ao longo do ano, os Cursos Breves da Biblioteca Municipal Almeida Garrett vão abordar as revoluções que mudaram o mundo, a ficção portuguesa e a música de protesto, enquanto o programa Um Objeto e seus Discursos vai dar a conhecer a estátua do General sem medo e a antiga sede da PIDE no Porto.

50 anos de Abril não se vivem sem a intervenção musical, seja na exposição "Destruir o Silêncio" ou nos concertos de música portuguesa, francesa e russa que terão lugar no Museu Romântico e no Museu Guerra Junqueiro.

A revolução passa, igualmente, pela Fonoteca, com um Escuta Ativa a convidar o historiador Manuel Loff, pela Concha Acústica dos Jardins do Palácio de Cristal e o espetáculo "Abril Febril", e, pela Associação de Moradores da Bouça que, no âmbito do Cultura em Expansão, recebe Luca Argel e o Grupo de Cante Alentejano do Orfeão Universitário do Porto.

Videomapping nos Aliados e memórias a bordo do Elétrico

Na Avenida dos Aliados, um espetáculo de videomapping, em colaboração com a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril e a RTP, que junta o fotógrafo Alfredo Cunha, o músico Rodrigo Leão e o artista plástico Vhils, assim como um projeto musical e literário com artistas da cidade e um momento de fogo-de-artifício abrem caminho, na noite de 24 de abril, ao "dia inicial inteiro e limpo".

Como sempre, a manhã reserva espaço para os mais novos com atividades para crianças e famílias, e a tarde de dia 25 oferece música.

Também a STCP se associa às comemorações dos 50 anos de Abril com programação do Serviço Educativo no Museu do Carro Elétrico. No dia 6, para "famílias elétricas", tem lugar a iniciativa "Um museu a mentir", a 13 acontece a visita encenada "Os sentidos de Abril", a 19 uma visita ao espaço com direito a performance e no dia 24 "Liberdade a duas vozes" proporciona uma visita noturna ao Museu.

Entre os dias 23 e 28, há "Poemas em linha", uma ação de poesia interventiva nas linhas do carro elétrico. Além disso, a operadora vai lançar um projeto – que inclui landing page e uma intervenção no museu – de partilha de memórias de trabalhadores da STCP, ao serviço no 25 de abril de 1974.

O cinema como arma de revolução

E "Se o Cinema é uma Arma", o Batalha Centro de Cinema apresenta, entre 16 de março e 28 de abril, um ciclo temático com filmes que, ao denunciar opressões, se transformam em importantes atos de resistência.

A 24 de abril, o Batalha mostra como "O Cinema Unido Jamais será Vencido", uma seleção de filmes criados pelas cooperativas mais ativas no período revolucionário, mas também uma animação mais recente sobre "a longa noite do fascismo".

O programa completo das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril no Porto pode ser consultado no documento em anexo.