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Histórias da cidade: uma “obra maior da pintura flamenga” para descobrir no Porto

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Aos 500 anos, a Rua das Flores continua a reservar muitos encantos. Lá se encontra um exemplar que está considerado entre os mais relevantes da pintura flamenga do século XVI.

Se razões faltassem para percorrer a Rua das Flores, eis mais uma: na quincentenária artéria da Baixa do Porto pode admirar-se aquela que é descrita como uma “obra maior da pintura flamenga”, que remonta ao início do século XVI. O Museu da Misericórdia do Porto (MMIPO) alberga o Fons Vitae, trabalho datado de cerca de 1515-1517, cuja autoria é atribuída a Colijn de Coter.

“Obra maior da pintura flamenga, o Fons Vitae é testemunha da pujança da cidade e das suas ligações ao Norte da Europa, no século XVI”, pode ler-se na secção do site do MMIPO dedicada a este trabalho monumental. “É um quadro de grande envergadura (267 x 210 cm), pintado a óleo sobre madeira de carvalho”, acrescenta.

A história do Fons Vitae mistura-se com a história da Rua das Flores: foi D. Manuel I que, em 1521, deu ordem para que fosse aberta a artéria, e tinha sido do monarca o desejo expresso de que fosse criada, no Porto, a Confraria de Nossa Senhora da Misericórdia – instalada, numa fase inicial, na capela de Santiago, no claustro velho da Sé, mas que em meados do século viria a empreender a construção de uma igreja própria, precisamente na Rua das Flores.

D. Manuel I não terá também sido alheio à encomenda do Fons Vitae: “Seguramente, a encomenda foi realizada por alguém ligado à Misericórdia que frequentava o círculo mais íntimo do monarca”, sublinha o MMIPO.

Assim, D. Manuel I surge como uma das figuras centrais que convergem no Fons Vitae. “No plano terreno, a iconografia régia de D. Manuel I, sendo esta, porventura a única obra existente em que o monarca é retratado com os atributos inerentes à sua ideologia política e quadro espiritual”, descreve o museu, notando que “no plano celeste, o tema do ‘Calvário’ associado ao da ‘Fonte da Vida’ e da ‘Piedade’, sendo que o escudo de armas português incluiu a cruz de Cristo e as cinco chagas.”

A composição do Fons Vitae combina vários temas, conclui o MMIPO: “O tema da Fons Pietatis, central na pintura, teve grande difusão na época medieval no norte e centro europeu, ligando-se ao ‘Juízo Final’. Está associado ainda ao culto do ‘Santo Sangue’ e, a partir deste, a muitas outras variantes que colheram grande recetividade devocional, como o culto do ‘Santo Lenho e da Vera Cruz’.”

Em 2015, o Fons Vitae esteve no centro de uma sessão da série Um Objeto e Seus Discursos, em que a obra do Renascimento foi abordada em articulação com a missão cultural da Misericórdia e a visão de dois artistas contemporâneos que pensam e trabalham o sagrado.