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Histórias da cidade: uma espécie de semáforo com quase 400 anos e que travava a peste

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A designação dá pistas suficientes para compreender qual era a sua utilidade: a “bandeirinha da saúde” era erguida no topo de um padrão de pedra, para ser visível pelas embarcações que chegavam à cidade, com o propósito de sinalizar o limite para a paragem dos navios, enquanto aguardavam a vistoria das autoridades sanitárias.

Diz-se que a História se repete, e não é descabido ver paralelismos entre as circunstâncias da atualidade e os motivos que levaram, há quase quatro séculos, a implementar um método de sinalização que servia para evitar a entrada de epidemias no Porto. Assim como hoje se tornou familiar a exigência de um teste negativo ou certificado de vacinação para aceder a determinados locais, há 400 anos a cidade impunha uma vistoria sanitária aos navios que chegavam, num esforço para travar a propagação da peste.

Havia um singular dispositivo, estrategicamente colocado, para transmitir esse sinal às embarcações. Tratava-se da “bandeirinha da saúde”, que se erguia no topo de um padrão de pedra que ainda hoje se encontra na Rua da Bandeirinha. O nome do arruamento não é mera coincidência: “A função deste elemento originou o nome do lugar e da rua”, explica-se no Sistema de Informação para o Património Arquitetónico, da Direção-Geral do Património Cultural.

Da mesma forma, a “bandeirinha da saúde” deu o nome ao miradouro que ali se encontra e de onde é possível apreciar uma panorâmica da cidade e do Douro, demonstrando as razões que levaram à escolha do local para implementar esta verdadeira fronteira sanitária à navegação que entrava no rio – ser um ponto de referência, com boa visibilidade.

A mesma fonte aponta 1633 como possível data de conclusão da construção da pirâmide de granito, um trabalho que foi entregue ao mestre Bastião Fernandes. Este marco “era o suporte de uma bandeira de metal, que assinalava o limite para a paragem dos navios que chegavam do exterior. Estes navios e tripulantes aguardavam uma vistoria das autoridades sanitárias antes de desembarcarem, no sentido de impedir a entrada de epidemias”, pode ler-se.

Vários séculos depois, este objeto e a prática a ele associada continuam a despertar interesse e curiosidade. A “bandeirinha da saúde” será protagonista de uma sessão, promovida pelo Museu da Cidade no âmbito do programa operativo Sonda – um ciclo de conversas com convidados em torno de temas do património arquitetónico, artístico ou arqueológico da cidade – na qual Carla Stockler conversará com Amândio Barros sobre o marco que protegia do Porto de doenças. O Reservatório, primeira estação do Museu da Cidade, será o palco da sessão que se realiza na próxima quinta-feira, às 18 horas.