Sociedade

Histórias da cidade: Uma data sem monumento mas com o Liberalismo no coração

  • Paulo Alexandre Neves

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Filipa Brito

O Porto continua sem um monumento que evoque a vitória do liberalismo em 24 de Agosto de 1820”. A afirmação pertence ao jornalista, historiador e bibliófilo Germano Silva (“Histórias portuenses”, Visão, 12/05/2018), revelando que a tentativa dos “homens bons do Porto”, um ano depois, não passou de uma boa intenção. Ainda chegou a ser lançada a primeira pedra, com pompa e circunstância, mas a construção do monumento perdeu-se nas brumas da História.

O Liberalismo, esse, nunca se desvaneceu na cidade. Veio, depois, o miguelismo e o regime absolutista, a revolta de 1828 e a entrada, a 9 de Julho de 1832, de D. Pedro IV, à frente do Exército Libertador. É para celebrar quem engrandece a Invicta e quem a ela se dedica também de coração, em vários “campos de batalha”, que o Município do Porto realiza, a cada dia 9 de julho, a cerimónia de atribuição das medalhas de mérito da cidade.

Veio o Cerco do Porto, que durou mais de um ano — de julho de 1832 a agosto de 1833 —, no qual as tropas liberais de D. Pedro estiveram cercadas pelas forças absolutistas fiéis a D. Miguel. Foi a essa heroica resistência da cidade do Porto e das tropas de D. Pedro que se deveu a vitória da causa liberal em Portugal.

Cidade Invicta

Deste período, a cidade não tem um monumento, mas sempre se pode definir um percurso. Foi nesse sentido que, em 2017, Câmara do Porto, Direção Regional de Cultura do Norte, Exército Português, Irmandade da Lapa e os museus da Misericórdia do Porto e Nacional Soares dos Reis criaram a “Rota Porto Liberal” com o objetivo de “divulgar lugares a esse tempo de luta e ao contributo dado por D. Pedro IV, também libertador do Brasil e seu primeiro imperador, enquanto país independente”.

Será sempre possível descobrir sítios e ruas da cidade que guardam memórias, desde a Revolução de 1820 até à vitória liberal de 1832-34. Por exemplo, a Igreja dos Congregados e as dependências conventuais que serviram, durante o cerco, de armazém de material bélico e de hospital, ou o Museu Militar, onde, numa sala do primeiro andar, se encontra, por exemplo, uma primeira edição da Constituição Portuguesa de 1822 e uma carta impressa que D. Pedro IV escreveu à população do Porto, agradecendo o contributo para a vitória liberal.

A rota faz-se também pela toponímia da cidade: Rua do Heroísmo, inicialmente designada Rua de 29 de Setembro, numa evocação à batalha que ocorreu nesse dia, de 1832, nos terrenos envolventes, que se saldou por uma vitória liberal; Rua do General Sousa Dias, onde foram instaladas duas baterias, a das Fontainhas e a do Postigo do Sol, com o objetivo de defender o Mosteiro da Serra do Pilar, reduto liberal na outra margem do Douro. A “Rota Porto Liberal” passa também pela Rua das Flores, Rua das Taipas, Jardim de João das Chagas, Rua da Cedofeita e Rua dos Mártires da Liberdade.

Dois importantes apontamentos finais: na Praça da Liberdade situa-se o verdadeiro símbolo do liberalismo portuense - a estátua equestre de D. Pedro IV, o Rei Soldado. Foi nesta praça que, em 1820, foi declarada a Revolução Liberal e onde, nove anos depois, foram enforcados os 12 mártires da liberdade, cujos nomes estão inscritos nas placas de bronze no pedestal do monumento, inaugurado em 1866. Por fim, a Igreja de Nossa Senhora da Lapa, onde está guardado o coração de D. Pedro IV, doado pelo próprio à cidade do Porto como forma de reconhecimento do apoio à causa liberal.

Um período que deixou profundas marcas identitárias na cidade, a começar pelo título de Invicta.