Sociedade

Histórias da cidade: Uma capela situada num primeiro andar

  • Paulo Alexandre Neves

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Guilherme Costa Oliveira

Talvez passe despercebida, não pela discreta monumentalidade do edifício, mas porque no seu interior contempla uma capela, cuja devoção a Nossa Senhora da Silva perde-se no tempo. É a única capela da cidade situada num primeiro andar. O pequeno templo é o que resta do Hospício de Nossa Senhora da Silva, cuja capela-oratório era administrada pela Confraria dos Ferreiros, Caldeireiros e Anzoleiros da cidade.

Está integrada no casario que ladeia a Rua dos Caldeireiros (do lado esquerdo de quem desce). Ainda que tenha sofrido alterações ao longo do tempo continua pequena, recuada. No seu interior, precisamente no primeiro andar, tem a capela-oratório, que a confraria ali instalou.

Duas grandes portas e, no meio destas, uma janela com grade de ferro compõem a fachada do prédio, para além de uma varanda, a toda a largura, no primeiro andar, com grades de ferro e duas janelas envidraçadas, entre as quais se encontra o curioso nicho, do século XVIII, também envidraçado e protegido por uma cobertura de talha, contendo as imagens de Nossa Senhora da Silva, de S. João Baptista e de S. Baldomero, e encimado por um vistoso frontão recortado.

Ali chegou a existir o Hospital de S. João Baptista e, na frente para a Rua de Trás, um hospício para peregrinos estrangeiros (com a denominação de Hospital de Santa Catarina). Este integrava, sobre a loja e o portal, dois andares com janelas de sacada e varandas de ferro e um oratório, com a imagem de Santa Catarina, entre as quatro janelas do primeiro andar. No interior do edifício existe um pequeno pátio, que separava os dois referidos hospitais e tinha portas interiores de comunicação, hoje desaparecidas, tal como o oratório de Santa Catarina.

"Cidade de Santa Maria"

Ainda hoje ali se acolhem irmãs pobres da Confraria de Nossa Senhora da Silva. A devoção está ligada a uma antiquíssima tradição, segundo a qual a origem desta invocação mariana se deve ao facto de uma imagem de Nossa Senhora, em pedra toscamente trabalhada, ter sido encontrada por um pedreiro no meio dum silvado, que, em tempos remotos, crescia no local onde depois se ergueu uma capela, que teria sido mandada construir por D. Mafalda, mulher de Afonso Henriques.

Expressão dessa antiquíssima devoção foi a cidade ter adotado para o seu brasão a imagem da Virgem e ter-se chamado, desde tempos remotos, "cidade de Santa Maria".

Na Sé do Porto existe também uma imagem de Nossa Senhora da Silva, não a encontrada no meio das silvas, mas uma outra, do século XIV, em calcário policromado.