Sociedade

Histórias da Cidade: Um templo que já foi capela e que agora acolhe peregrinos

  • Paulo Alexandre Neves

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Miguel Nogueira

A Capela de Nossa Senhora das Verdades alberga uma imagem da Virgem, que esteve, originalmente, num dos arcos da antiga muralha da cidade – o Postigo das Mentiras (mais tarde, das Verdades). De pedra Ançã, representa a Virgem com o Menino nos braços e é, provavelmente, do século XIV, atribuída às oficinas coimbrãs. Hoje, o templo dessacralizado é um ponto de passagem e abrigo para peregrinos e caminhantes do Caminho Português da Costa para Santiago depois de recuperado pelo Município do Porto, em 2018.

Da capela sabe-se que, em 1697, estava em construção, na Rua de D. Hugo (e que então se chamava Rua de Trás da Sé), a expensas da Confraria de Nossa Senhora do Postigo das Verdades. Em 1701, foi "adotada" pelo cónego Domingos Gonçalves Prada, vizinho da capela a quem a confraria e o senado da Câmara autorizaram a abertura de uma porta de acesso pela sua habitação.

Arquitetonicamente está inscrita no estilo maneirista: planta retangular, cobertura de duas águas, frontispício delimitado por pilastras toscanas e rematado por frontão triangular. No interior, o retábulo de feição maneirista com decoração apontada para o barroco nacional, intercala quatro pinturas que representam São Domingos, São José, São João Batista e Nossa Senhora da Rosa, com a imagem de Nossa Senhora das Verdades, num nicho ao centro.

Exemplar da arte da talha

Um belo exemplo que muito contribuiu para a história da evolução da arte da talha na cidade do Porto, uma vez que constitui o único exemplar que chegou aos nossos dias e que aponta para uma viragem de gosto e estilo. Se, estruturalmente, o retábulo tem uma linguagem maneirista, a decoração aponta para o estilo Nacional, que se evidencia em todo o retábulo, em particular nas colunas torsas e com espiras onde pontuam símbolos de cariz eucarístico – folhas de videira, cachos de uvas, fénixes e meninos nus.

Reaberta ao público, após uma intervenção de recuperação, conservação e restauro, a capela é, desde março de 2018, um ponto de passagem e abrigo para peregrinos e caminhantes do caminho português da costa para Santiago. Aqui instalou a Câmara, sua proprietária, um centro de acolhimento ao peregrino, aproveitando a privilegiada localização desta capela dessacralizada.

Uma capela a conhecer por todos - locais, turistas e peregrinos -, por exemplo, durante este período pascal.