Sociedade

Histórias da cidade: Um projeto inovador nascido da união entre cooperativas

  • Paulo Alexandre Neves

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CM Porto

Esta é uma história de resiliência. Teve o seu epílogo em 1993, com a inauguração, a 22 de julho desse ano, da Cidade Cooperativa da Prelada (CCP), mas a ideia começou a germinar muito antes, a partir dos finais dos anos oitenta do século passado. Na altura, o poder central incentivava e prometia fortes apoios aos projetos de iniciativa cooperativa. Foi, então, que a união de sete cooperativas de habitação permitiu a construção de um dos mais importantes polos residenciais da cidade.

A ideia surgiu, pois, em 1988, "exactamente no momento em que se assistia a uma boa perspetiva de desenvolvimento de projectos cooperativos", apontou Guilherme Vilaverde, presidente da CCP, ao blogue "ruasdoporto" (maio de 2015). Para o efeito foi celebrado, a 14 de junho desse ano, um protocolo institucional, que envolveu a empresa detentora dos terrenos, Câmara Municipal do Porto, Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE) e o então Instituto Nacional de Habitação (hoje, Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana-IHRU).

Em janeiro de 1989, as oito cooperativas envolvidas – Sete Bicas, Ceta, Gente do Amanhã, Hazel, Portocoope, Santo António das Antas, Santo Ildefonso e Solidariedade e Amizade – criam uma direção comum para adquirirem os lotes disponíveis. Seguiu-se, a 27 de julho de 1989, a publicação, em Diário da República, da constituição da "Cidade Cooperativa da Prelada, UCRL (CCP)".

Nesse mesmo ano, a 11 de Setembro, seria realizada a primeira assembleia de cooperativas da CCP. Ali ficou constituído o núcleo de primeiros dirigentes cooperativos do projeto: Guilherme Vilaverde (Sete Bicas), presidente, Arnaldo Fleming (Solidariedade e Amizade), secretário, Rui Souto (Gente de Amanhã), tesoureiro, e Arnaldo Lucas (Ceta), Joaquim Faria (Portocoope), Vergílio Silva (Hazal), Joaquim Baião (Santo António das Antas) e Manuel Vieira (Santo Ildefonso) os vogais.

Palavra "Cidade" não foi escolhida por acaso

O lançamento da primeira pedra deu-se a 1 de julho de 1990 e, em fevereiro de 1991, iniciaram-se as obras, com um custo final que ascendeu a mais de sete milhões de contos (35 milhões de euros). Pela primeira vez, o movimento cooperativo assistiu à construção de um projeto intercooperativo e de uma grande dimensão construtiva. Situado na freguesia de Ramalde, o empreendimento ocupa uma área com cerca de três hectares e nove blocos, num total de 591 fogos. As áreas verdes ocupam mais de 11 mil m2 dos quais cerca de 65% são coberturas.

Considerado por muitos como um projeto inovador no setor das cooperativas de habitação, a sua denominação tem uma história curiosa: a palavra "Cidade" não foi escolhida ao acaso. Os seus responsáveis quiseram transmitir uma ideia positiva de polo residencial, que não fosse ghetto ou dormitório só por ser cooperativo. Hoje, esse sentimento ainda se mantém entre os seus moradores.

A 22 de julho de 1993 é inaugurada, pelo então Presidente da República, Mário Soares, a Cidade Cooperativa da Prelada, delimitada a norte pela rua Padre Diamantino Gomes, a sul pela Via de Cintura Interna (VCI), a oeste pela rua Professor Antão de Almeida Garrett e a este pela rua da Cidade de Xangai. As ruas Professor Antão de Almeida Garrett e Maria de Lamas permitem a circulação na periferia do complexo habitacional e a ligação ao interior faz-se pelas ruas Santana Dionísio, Doutor Cruz Malpique, Doutor Paulo Pombo e Marta Sampaio, vias públicas sem saída para veículos.