Sociedade

Histórias da Cidade: Um carneiro perdido que trocou a praia por um passeio alegre no jardim

  • Cláudia Brandão

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Filipa Brito

Dizem que os carneiros seguem sempre o rebanho, mas no Porto isso não é inteiramente verdade. Haverá pelo menos um que se terá perdido para os lados do Passeio Alegre e hoje podemos dar por ele num local um pouco complicado para alcançar a vegetação. Esta história da cidade serve para assinalar a chegada do Verão. Mete rebanhos, lugares de literatura e faróis. Mas tudo começa precisamente na Praia do Carneiro.

Hoje um orgulhoso local que ostenta a Bandeira Azul e atrai centenas de veraneantes, outrora um ponto ideal para pastar. Assim acontecia um pouco por toda a costa, onde os pastores levavam os rebanhos para se alimentarem da intensa vegetação que ali nascia. Foi essa a origem do nome de uma outra praia, uns metros mais a sul, a das Pastoras. Ali, entre o que agora são os molhes de Felgueiras e Norte.

Se uma é dedicada às mulheres que levavam os animais a pastar, a outra recebe o nome em honra dos próprios carneiros. Ou melhor, de um único que, um dia, se terá perdido do grupo e andado a deambular pela zona. Não consta que alguma vez tenha sido encontrado e retornado ao rebanho. Ao carneiro, nem o farol lhe valeu para orientação.

Aquele farol – ou farolim - ao fundo do molhe, construído em 1886, em alvenaria de granito e que, do alto dos seus dez metros, emitia uma luz que alcançava as nove milhas náuticas e um relâmpago vermelho a cada cinco segundos. Haveria de funcionar durante mais de 120 anos.

No entanto, quem quiser procurar o carneiro perdido pode fazê-lo ali bem perto, no Jardim do Passeio Alegre. Pode sentar-se numa das mesas que circundam o centenário quiosque de madeira que ali ainda abre as portas. E imaginar as figuras intelectuais que ali se reuniam em verdadeiras tertúlias: Camilo Castelo Branco, Arnaldo Gama, Ramalho Ortigão, Alberto Pimentel. Este tipo de construção proliferava no Porto. Eram locais de venda de livros, revistas, bebidas, frutas, flores, tabaco. São sempre um ponto de convívio. Antes e hoje.

O último proprietário do quiosque, o suíço Jácome Rasker, ter-lhe-á trazido o nome pelo qual é hoje conhecido, o Chalé Suisso. Mas talvez não seja total acaso que o primeiro dono se chamasse António Carneiro dos Santos. Isto porque, lá do alto deste Imóvel de Interesse Municipal, como um farol, vai poder encontrar o tal carneiro que deixou o rebanho para se aventurar num alegre passeio pela Foz do Douro.