Cultura

Histórias da cidade: Teatro Universitário do Porto já leva 75 anos em cima do palco

  • Paulo Alexandre Neves

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O Teatro Universitário do Porto (TUP) comemorou, em dezembro, 75 anos de existência. Na sua génese esteve um grupo de estudantes de medicina e um histórico professor da mesma faculdade, Hernâni Monteiro. É a companhia mais antiga da cidade, sendo-lhe reconhecido o contributo para o nascimento do teatro independente no Porto. Tem, até aos dias de hoje, desenvolvido a sua atividade sem interrupções.

"O Teatro Clássico Universitário do Porto apresentou-se, ontem, pela primeira vez, em público e diga-se, desde já, que se merece louvores a sua criação, igualmente têm direito a elogios todos aqueles que colaboraram neste espectáculo de arte e bom gosto. Num meio como o nosso, onde há uma Universidade, impunha-se a criação deste Teatro não só para completar o ensino dos que estudam, mas ainda para conhecimento dos que sentem pelo teatro verdadeiro culto." (in O Primeiro de Janeiro, 14 de dezembro de 1948)

A estreia decorreu no Teatro Rivoli, com a representação das peças Filodemo, de Luís Vaz de Camões, e O Fidalgo Aprendiz, de D. Francisco Manuel de Melo, e ainda de duas cenas (em castelhano) adaptadas do dramaturgo espanhol Tirso de Molina. Como relatava o Primeiro de Janeiro no dia seguinte ao da estreia, "ousadia seria, nestas ligeiras notas sobre um belo espectáculo que só pecou pela extensão, falar das obras representadas". Em vez disso, elogiava as "acentuadas qualidades para o género” demonstradas por “todos os componentes do Teatro Clássico, sob a direcção do antigo actor Abílio Alves".

Formação, renovação e experimentação

A criação da companhia teve o apoio do, então, Reitor da Universidade do Porto, Amândio Tavares, e de vários representantes da indústria e do comércio portuenses. A partir de 1953, sob direção de Correia Alves, o TUP começa a apostar numa tripla vertente, que perdura até aos nossos dias, ou seja, formação, renovação e experimentação.

Naquela altura, e quando poucos se abalançavam a contrariar o regime vigente, o Teatro Universitário levou à cena textos de autores como Synge, Thornton Wilder, Tennessee Williams, Aristófanes, entre outros.

Fruto do seu trabalho, o TUP foi ganhando projeção, nacional e internacional, marcando presença em diversos festivais. Recebeu vários prémios, nunca abdicando do seu caráter não profissional e universitário. Disso é exemplo a foto de arquivo que ilustra esta "história", uma famosa digressão dos seus membros a Moçambique, em 1962.

"Uma história que se confunde com a da própria cidade"

Hoje, e sob direção de Sandra Pinheiro, continua a realizar encenações coletivas, apresentando textos dramáticos de autores inéditos em Portugal. Por ocasião do 75.º aniversário, e em declarações ao Porto Canal, a presidente do TUP reconheceu que "o TUP fez muito pela arte e pelo teatro no Porto. A história do TUP é uma história que se confunde até com a da própria cidade e é uma história que consideramos que é desvalorizada e que raramente se conta", acrescentou.

Atualmente, o TUP continua a apostar num trabalho de qualidade, nas suas escolhas de textos dramáticos, de encenações e na formação dos seus elementos, realizando regularmente cursos e workshops de teatro. O próximo espetáculo – Amanhã Não Há Revolta – estreia na próxima quinta-feira, dia 18, na Associação de Moradores da Bouça, partindo do arquivo do teatro e de uma peça que foi encenada em 74/75, e que aborda a luta dos operários da Marinha Grande.

Como disse um dia José Rodrigues, escultor e antigo cenógrafo do Teatro Universitário do Porto, "compete ao TUP ser uma espécie de despertador. Não agredir, despertar. Mostrar às pessoas que ser curioso é fundamental".