Histórias da cidade: Ribeiro da Silva, "o português voador"
Paulo Alexandre Neves
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Ribeiro da Silva foi um ciclista que se destacou na década de 50 do século passado, ao serviço do Académico Futebol Clube. Natural de Lordelo (Paredes) atingiu o auge da sua carreira com as vitórias na Volta a Portugal, em 1955 e 1957. Neste mesmo ano, com apenas 22 anos de idade, ficou em quarto lugar na Volta à Espanha e ganhou a célebre etapa do Tourmalet, no Tour de França. Foi, então, apelidado pelo jornalista do L'Équipe, Paul Ruinart, "o português voador".
Nessa altura, Ribeiro da Silva era o grande rival de Alves Barbosa, outro grande vulto do ciclismo português. Os dois protagonizaram interessantes etapas, vividas efusivamente pelos adeptos, que enchiam as estradas do nosso país para ver passar o pelotão. Por exemplo, leia como João Pinto e Castro viveu a última etapa da Volta a Portugal de 1955, ocorrida no Porto:
“Em 1955, eu esperava no Velódromo do Lima, com o meu avô, a chegada da última etapa da Volta à Portugal. Grande expectativa, lá vem o pelotão à desfilada, Ribeiro da Silva isolado, sprint emocionante - mas onde está o camisola amarela? A multidão esperou ansiosamente um minuto, dois minutos - o tempo a passar, o primeiro lugar em perigo - cinco minutos, dez minutos... Nesse dia, o camisola amarela Alves Barbosa nunca chegou. Tinha sido atacado nos Carvalhos por uma chusma que lhe derrubou a bicicleta, o agrediu e o deteve pelo tempo necessário para assegurar que o vencedor da Volta não seria ele, mas o Ribeiro da Silva. Nessa época, o ciclismo era um jogo tradicional português que não excluía umas valentes pauladas se isso se revelasse necessário”.
A agressão de que Alves Barbosa foi vítima proporcionou a vitória a Ribeiro da Silva, que se voltaria a repetir para o atleta do clube portuense, de forma “limpa”, em 1957 (Alves Barbosa ficaria em 4.º lugar). Manuel João Sá descreve, em “Crónicas do Vale de Santarém”, a etapa de ligação a Lisboa: “Foi ali mesmo, naquela subida que, na Volta de 1957, na etapa para Lisboa, surgiu a meus olhos a figura impressionante do jovem Ribeiro da Silva, corpo erguido sobre a bicicleta, a sobressair no pelotão, o boné de pala levantada a despontar na cabeça, a camisola amarela mais reluzente quando o sol lhe acertou em cheio, Barbosa talvez um metro adiante, o pelotão passando com um ruído estranho, perto do quase silêncio, porém um zuuuuuu inimitável, excitante, de rodas e carretos na sua função, pernas e corpos parecendo sob comando de um sincronizador, pernas e corpos movendo-se como um só”.
Carreira internacional promissora
Ribeiro da Silva nasceu em fevereiro de 1935. Cedo demonstrou grande apetência para o ciclismo. Em 1953, inscrito na categoria de amadores-juniores, vence duas etapas do respetivo campeonato. Nesse mesmo consegue um 8.º lugar na clássica Porto-Lisboa.
Em 1954, já a correr com as cores do Académico FC, alcança o 5.º lugar na Volta a Pontevedra Espanha) e é proclamado “rei da montanha”. Os jornais espanhóis falam dele com admiração. Um ano depois, conquista o Campeonato Regional e entra na Volta a Portugal. Bate-se, pela primeira vez, com Alves Barbosa e ganha. Em 1956 volta a disputar a principal prova velocipédica no nosso país e fica em segundo, atrás do seu rival Alves Barbosa. Mesmo assim contribui para a vitória, por equipas, do Académico Futebol Clube.
O ano de 1957 marcou, definitivamente, o percurso desportivo de Ribeiro da Silva. Para além da vitória na Volta a Portugal, brilha a nível internacional: quarto lugar na Volta a Espanha, 25.º na Volta a França pela equipa Rochet-Dunlop. Mas é a vitória na mítica montanha do Tourmalet (Pirenéus) que o deixa nas bocas do ciclismo mundial, acrescida também da vitória na conceituada prova francesa Paris-Evreux.
Tudo apontava para uma grande carreira no ciclismo nacional e, quem sabe, internacional. Um acidente de viação, em abril de 1958, roubou ao ciclismo português "o português voador".