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Histórias da cidade: pela Fonte da Colher corriam das melhores águas do Porto

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Filipa Brito

Quem hoje passa pela Alfândega do Porto não pode deixar de admirar, de um lado, o edifício histórico recuperado de acordo com o projeto concebido pelo arquiteto Eduardo Souto de Moura. E, do outro lado, pode demorar o olhar pelo antigo casario de Miragaia – com sorte, o cenário de postal fica composto com a passagem do elétrico da linha 1.

Mas há outros motivos de interesse neste local que não saltam imediatamente à vista. Num recanto da Rua de Miragaia, situada em plano inferior à Rua Nova da Alfândega, está aquela que é uma das mais antigas fontes da cidade. Tem uma história ilustre e um nome curioso.

Chafariz da Colher, ou Fonte da Colher, assim se chama uma das mais antigas estruturas de abastecimento de água do Porto. Está ali há pelo menos 390 anos, embora existam referências à Fonte da Colher no século XV.

“Construída em 1629, data incluída numa cartela de granito hoje praticamente impercetível, a Fonte da Colher foi um dos muitos melhoramentos urbanos verificados na cidade do Porto durante, e imediatamente após, o governo de Filipe II. Localizada na zona ocidental da cidade, diante da Alfândega Nova, a construção de 1629 deve ter aproveitado uma estrutura anterior, designadamente medieval, chegando até hoje a notícia de que, em 1491, já existia uma fonte com este nome em Miragaia”, explica o portal da Direção-Geral do Património Cultural.

Com as obras de construção da Nova Alfândega, em 1871, a fonte ficou praticamente escondida, num plano inferior à rua. Contudo, a sua água era considerada como uma das melhores da cidade e muita gente recorria ao Chafariz da Colher (imagem no Arquivo Municipal do Porto).

Classificada em 1938 como Imóvel de Interesse Público, a Fonte da Colher teve obras de restauro em 1940.

Há várias versões para a origem do nome da fonte. Ao contrário do que a designação pode sugerir, o nome não estará relacionado com talheres ou com a necessidade deles para beber a água daquela fonte. Colher, neste caso, refere-se a um antigo imposto sobre géneros – era ali, na Rua de Miragaia, que estava situada uma das alfândegas da cidade, pelo que as mercadorias que chegavam pelo rio haviam de pagar o respetivo tributo.

“Antes de entrar pela Porta Nobre para vender na cidade pão, farinha, nozes, castanhas e legumes, tinham de pagar o seu imposto, que não era mais do que uma colher do artigo por cada alqueire trazido. E digamos a propósito que cada alqueire tinha quarenta colheres”, pode ler-se. Colher a colher, o nome ficou para sempre com a fonte.