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Histórias da cidade: Pedro Ivo, a biografia de um pseudónimo

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Pedro Ivo, pseudónimo de Carlos Lopes, foi escritor e nasceu no Porto. Dá nome à Biblioteca situada no Jardim da Praça do Marquês de Pombal, que está em processo de reativação para operar no contexto cultural, e homenageia um revolucionário brasileiro que no século XIX lutou pela igualdade de direitos em Pernambuco.

No ano em que a Feira do Livro do Porto celebra Júlio Dinis, “o mais esquecido dos escritores portugueses conhecidos”, a atividade também voltou à Biblioteca Popular de Pedro Ivo, descrito como “um notável escritor esquecido”. Para além de terem em comum esta falta de presença na memória coletiva, os dois autores partilham também o facto de terem escolhido identificar-se com pseudónimos na sua produção literária. Joaquim Guilherme Gomes Coelho era o verdadeiro nome de Júlio Dinis, e Pedro Ivo foi o pseudónimo literário escolhido pelo escritor Carlos Lopes.

Nascido a 15 de janeiro de 1842, no Porto, e falecido a 4 de outubro de 1906, também na cidade Invicta, Pedro Ivo era oriundo de uma família abastada. “Viveu na Inglaterra e na Alemanha, onde foi educado, traduzindo poesias de Schiller, Goethe, Uhland, Heine e Hoffman, entre outros”, pode ler-se na Infopédia, o serviço online de conteúdos da Porto Editora. “Estreou-se na atividade literária com a publicação de Contos (1874), obra elogiada pela crítica, a que se seguiram o romance O selo da roda (1876), igualmente aplaudido, e nova coletânea de contos, Serões de inverno (1880). A escrita de Pedro Ivo revela influências de Júlio Dinis e de Rodrigo Paganino, no tema da felicidade rústica e no carácter moralizador das narrativas, e de Camilo, quanto ao sentimentalismo trágico”, acrescenta o portal enciclopédico.

A título póstumo, viriam a ser editados alguns trabalhos do autor. A antologia Pedro Ivo, Prosador e Poeta, organizada por Bento Carqueja em 1909, incluiu algumas peças inéditas: contos, traduções de poetas alemães e poesias originais. Em 1926, Fernando Macedo Lopes, o filho do escritor, organizou a edição de alguns contos inéditos em O Limbo de Pedro Ivo, precedidos de um estudo biográfico que incluiu fragmentos da correspondência mantida com escritores como Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco e Oliveira Martins, entre outros.

A vida de Pedro Ivo foi marcada pelo contacto com outras realidades. “Depois de uma estada de dois anos no Brasil, de regresso a Portugal, dedicou-se ao comércio e à atividade bancária, chegando a presidente da Real Companhia dos Caminhos de Ferro de África”, assinala a Infopédia. E esta passagem pelo Brasil é importante para compreender a escolha do pseudónimo literário de Carlos Lopes.

Pedro Ivo foi um militar brasileiro que liderou a revolução republicana de Pernambuco, conhecida como a Revolução Praieira, em 1848-1849. O movimento exigia o voto livre e universal, liberdade de imprensa, garantia de trabalho e o fim do Poder Moderador, que dava ao imperador autoridade sobre os outros poderes. “De armas na mão, ele lutou pelos direitos de todos ao trabalho e à cidadania”, assinala o Diário de Pernambuco num projeto dedicado à história deste Estado do nordeste brasileiro.

Apesar de o movimento ter perdido o impulso inicial, com os seus líderes a entregarem-se ou a serem capturados, Pedro Ivo nunca baixou os braços. “O valente capitão continuou pelejando à frente de um corpo de guerrilha, embrenhado nas matas de Água Preta. E, rapidamente, tornou-se uma lenda que correu o País – um homem enfrentando o Império sozinho, batendo todas as tropas enviadas contra ele! Sem conseguir derrotá-lo – pelo contrário, sendo humilhado a cada tentativa –, o governo, enfim, prometeu-lhe indulto, se baixasse as armas. E, convencido pelo seu pai, Pedro Ivo apresentou-se na Bahia”, acrescenta o Diário de Pernambuco.

Porém, o militar seria atraiçoado: foi levado para o Rio de Janeiro e aprisionado no Forte da Laje. “Com a ajuda de seus irmãos maçons, fugiu da prisão, em abril de 1851, e após algum tempo embarcou clandestinamente para a Europa no navio Vesúvio, de bandeira italiana. Contudo, faleceu durante a viagem, súbita e estranhamente, e o seu corpo foi lançado ao mar, em março de 1852”, conclui o mesmo jornal.

A coragem de Pedro Ivo seria imortalizada pela pena de vários poetas: “Era um leão sangrento que rugia / Da glória nos clarins se embriagava / E vossa gente, pálida, recuava / Quando ele aparecia” (Álvares de Azevedo). “Que importa se o túmulo ninguém lhe conhece? / Não tem epitáfio, nem leito, nem cruz? / Sua cova é o peito do vasto universo / Do espaço, por cúpula, as conchas azuis” (Castro Alves).

No Porto, por intermédio do escritor que decidiu homenageá-lo escolhendo o seu nome para pseudónimo, Pedro Ivo também é recordado. Não apenas na Biblioteca situada no Jardim da Praça do Marquês de Pombal, mas também na rua que recebeu o seu nome, entre as ruas de Antero de Quental e do Covelo.