Sociedade

Histórias da cidade: Orpheon Portuense e a paixão de Moreira de Sá

  • Paulo Alexandre Neves

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No século XIX, o Porto conhece uma intensa atividade musical. O teatro, a ópera e os bailes difundem-se pela cidade, a par do culto pela música instrumental. O Teatro de S. João é palco de concertos, existem várias sociedades musicais, como a Sociedade Filarmónica (1840), fundada pelo maestro Francisco Eduardo da Costa, aparecem clubes e associações, como a Assembleia Portuense (1834), a que esteve ligada o visconde de Vilar de Allen, o Clube Portuense, o Clube de Cadouços e o Clube da Foz.

É neste ambiente histórico-cultural que é fundado, em 12 de janeiro de 1881, por Bernardo Valentim Moreira de Sá (1853-1924) e outras personalidades do meio artístico e social portuense, o Orpheon Portuense, instituição que marcou, até à sua extinção, em 2008, o meio musical da cidade. A par do Orpheon, Moreira de Sá e outros criaram mais duas sociedades musicais – a Sociedade de Quartetos (1874) e a Sociedade de Música de Câmara (1883) –, para além de ser, igualmente, fundador do Conservatório de Música do Porto (1917).

A propósito do Orpheon pode ler-se na dissertação apresentada, em 2015, à Universidade de Aveiro, por Ricardo Filipe Vilares, sob o título “’Um Sagrado Enlevo’: Moreira de Sá e o Culto da Música de Câmara no Porto”:

“(…) A Sociedade choral de Amadores, denominada Orpheon Portuense, instalou-se na noute de 12 de janeiro de 1881, na casa nº 115 da rua do Rosário, então habitada pelo Snr. Henrique Carlos de Meirelles Kendall, que obsequiosamente cedeu uma das suas salas e o seu piano para se fazerem os ensaios, enquanto o Orpheon não pudesse ter casa própria. A reunião effectuada na dita noute foi considerada sessão inaugural; nesta mesma assembleia foi discutido e aprovado o projecto de estatutos elaborado e apresentado por Bernardo Valentim Moreira de Sá, procedendo-se em seguida á eleição dos diferentes cargos (…). Em Maio do mesmo anno de 1881 mudou o Orpheon para o salão do palacete Sandeman, sito no largo da Cordoaria, hoje Martyres da Patria; e em Outubro de 1883 para a rua do Laranjal, casa n.º 185 da antiga e extincta Sociedade Phylarmonica Portuense. (…)”. (Annaes do Orpheon Portuense, 1897: 5-6).

Espólio doado à Casa da Música

A primeira apresentação pública realizou-se a 4 de março de 1882. Até à sua extinção, o Orpheon Portuense promoveu, junto dos seus sócios, intensa atividade musical – coral (segundo os seus primeiros estatutos, datados de 1883, “as senhoras que fôrem casadas deverão ser authorisadas por seus maridos e os menores por seus paes, tutores ou quem os representar”) e de câmara – e organizou concertos que marcaram a carreira internacional de grandes artistas nacionais, como Guilhermina Suggia.

Grandes solistas, orquestras e maestros internacionais apresentaram-se, pela primeira vez, em Portugal por iniciativa do Orpheon, que deu a conhecer novos repertórios e encomendou novas obras a compositores portugueses.

Foi extinto em 2008, sendo, na altura, presidida pela neta de Moreira de Sá, a violoncelista Madalena Sá e Costa. O espólio foi doado à Casa da Música, que o conserva, colocando-o à disposição dos estudantes universitários, investigadores e estudiosos da História da Música e da cidade do Porto.