Sociedade

Histórias da cidade: o portuense Rodrigues de Freitas foi o primeiro deputado republicano

  • Porto.

  • Notícia

    Notícia

Rodrigues_de_Freitas.jpg

Ainda antes de dar-se a Implantação da República, em 1910, houve deputados republicanos a serem eleitos ao Parlamento Monárquico. O primeiro a representar o Partido Republicano foi o portuense Rodrigues de Freitas.

Assinalaram-se os 111 anos da Implantação da República com uma cerimónia evocativa que teve lugar na freguesia do Bonfim, na qual o presidente da Assembleia Municipal, Miguel Pereira Leite, evocou a “força inabalável, o destemor e a resiliência dos portugueses e dos portuenses de outrora e de agora” que contribuíram para o 5 de Outubro de 1910. José Joaquim Rodrigues de Freitas foi um desses cidadãos da Invicta cuja ação, no final do século XIX, contribuiu para o fim da Monarquia.

Nascido no Porto, Rodrigues de Freitas (1840-1896) teve o seu nome imortalizado numa avenida que liga a União de Freguesias do Centro Histórico do Porto e a Freguesia do Bonfim, e também na atual Escola Secundária outrora designada por Liceu de D. Manuel II. Foi engenheiro, professor, pedagogo, publicista, político, economista e filósofo. “Notabilizou-se pela sua carreira política, eminentemente ligada aos ideais republicanos e socialistas, sendo um dos homens ligados à organização do Partido Republicano Português, onde se manteve até ao fim da vida”, pode ler-se na Infopédia, serviço online de conteúdos da Porto Editora.

Formado em Engenharia pela Escola Politécnica, Rodrigues de Freitas chegou ao lugar de catedrático com apenas 27 anos. Iniciou a sua carreira política numa época de profunda instabilidade política: eleito deputado em 1870, pelo círculo de Valença, viria a renovar o mandato após a dissolução da Câmara, a 3 de junho de 1871, numas eleições em que já concorreu pelo círculo número 13 (Porto, Bairro Oriental), explica-se no dossier “Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto”.

Rodrigues de Freitas estaria ligado ao Centro Eleitoral Republicano Democrático do Porto (CERDP), que sucedera ao Centro Republicano Democrático, de que foi uma figura proeminente. Foi por esta força que se candidatou às eleições de 1878 e 1879, as primeiras a que o CERDP se apresentou, tendo logrado ser eleito para o Parlamento.

“Sou republicano evolucionista; entendo que às monarquias hão-de suceder repúblicas, será essa a consequência dos fenómenos sociais”, declararia numa das suas intervenções parlamentares, mostrando-se contrário à via revolucionária para alcançar a mudança de regime.

Contudo, Rodrigues de Freitas veria o seu nome implicado no movimento que conduziu ao 31 de Janeiro de 1891. Nesse dia, no Porto, ocorreu o levantamento de alguns sectores militares, que se concentraram no Campo de Santo Ovídio, atual Praça da República. Entre vivas à República, os revoltosos dirigiram-se aos Paços do Concelho, onde foi proclamada a implantação da República e anunciada a constituição de um Governo Provisório.

Republicano evolucionista, Rodrigues de Freitas demarcar-se-ia desta revolta, que passou à História como a primeira de cariz republicano a abalar as estruturas da Monarquia em Portugal. Apesar de alguma deceção com a vida política, e debilitado por problemas cardíacos, Rodrigues de Freitas ainda seria eleito nas legislativas de 1893, vindo a falecer em 1896.

Foi sepultado no Cemitério do Prado do Repouso, mas não esquecido pela cidade: o centenário da morte de Rodrigues de Freitas seria assinalado em 1996 com o colóquio “Rodrigues de Freitas – a obra e os contextos”, por parte da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.