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Histórias da cidade: o “Mongezinho da Nova Sintra” inaugurou uma dinastia de artistas

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O talento de António Carneiro manifestou-se desde cedo, aos 7 anos, quando começou a copiar ilustrações de textos religiosos e publicações periódicas. Dele se disse que “nasceu poeta e foi pintor”, tendo sido discípulo de Soares dos Reis ou Marques de Oliveira na Academia Portuense de Belas-Artes.

Pintor, ilustrador, poeta e professor – foram várias as dimensões em que António Carneiro se distinguiu, tendo visto o seu mérito reconhecido em Portugal e no estrangeiro. Nascido em Amarante, chegou cedo ao Porto, devido às circunstâncias familiares, e na Invicta tomou contacto com as artes e iniciou o seu percurso. O seu nome perdura na memória da cidade: o ateliê que lhe pertenceu, na freguesia do Bonfim, vai ser reabilitado e transformado numa nova estação do Museu da Cidade.

Aquele espaço, localizado na rua que também leva o nome de António Carneiro, é testemunho da dinastia de artistas que inaugurou. O edifício, lê-se no site do Museu da Cidade, “foi construído na década de 1920 como ateliê dos artistas António Carneiro (1872-1930) e do seu filho Carlos Carneiro (1900-1971), figuras marcantes da arte portuguesa, nomeadamente nos contextos Simbolista e Modernista, respetivamente. Aqui viveu, também, o outro filho de António Carneiro, o compositor Cláudio Carneyro (1895-1963).”

António Carneiro “teve uma infância difícil”, recorda-se no portal dedicado aos Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto: “Aos sete anos foi abandonado pelo pai, ficando, pouco depois, órfão de mãe. Sozinho e desamparado, em 1879 foi encaminhado para o internato no Asilo do Barão de Nova Sintra, no Porto”, onde fez o ensino primário e começou a desenhar.

“O seu talento foi notado de imediato”, acrescenta-se. O “Mongezinho da Nova Sintra”, como era conhecido António Carneiro, ingressaria precocemente na Academia Portuense de Belas-Artes, onde foi discípulo de figuras como Soares dos Reis e Marques de Oliveira. Em 1897 partiu para Paris, para estudar na Académie Julian, e consolidar o seu percurso artístico. Participou na Exposição Universal de Paris, de 1900 (medalha pela obra A Vida), na Exposição Universal de Saint Louis (1904, medalha de prata) e na Exposição Internacional de Barcelona (1907, medalha de prata).

Regressa a Portugal e em 1911 começa a dar aulas em Belas-Artes. “A par da atividade como pintor e professor, dirige a revista portuense Geração Nova e coordena a secção literária e artística da revista A Águia”, descreve-se no site do Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC) do Chiado, que enaltece António Carneiro como “o único pintor do simbolismo português.”

Tendo-se dedicado acima de tudo à pintura de retrato – por esse motivo muitos chamavam “retratista de almas” a António Carneiro – o pintor não deixou de autorretratar-se, e no Arquivo Histórico do Porto encontra-se imagem de um desses trabalhos. Morreu prematuramente em 1930, mas a produção artística que deixou mantém viva a sua memória – e, a breve prazo, o ateliê que foi seu e dos seus filhos passará a integrar o Museu da Cidade.