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Histórias da cidade: o mais antigo jardim municipal do Porto foi construído como homenagem às mulheres

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Filipa Brito

Ainda que na toponímia da cidade seja identificado como Jardim de Marques de Oliveira, é provável que a maioria dos portuenses o conheça por Jardim de S. Lázaro. Mandado construir por D. Pedro IV, foi inaugurado em 1834 e é o mais antigo jardim municipal.

Mesmo contando com quase dois séculos de existência, o tempo parece não passar pelo Jardim de S. Lázaro. Apesar de ter sido objeto de várias intervenções ao longo dos anos, o espaço, com traçado romântico, mantém as caraterísticas originais do desenho de João José Gomes, primeiro jardineiro municipal do Porto.

A jardinagem corria-lhe no sangue: era filho do jardineiro da Quinta da China, Manuel Gomes de Macedo, e fez parte de uma família que perpetuou esta arte na cidade do Porto e arredores, durante quatro gerações. João José Gomes, que também teve uma grande participação nos jardins da Quinta da Prelada e da Casa do Conde de Ferreira, no Bonfim, dedicou-se à cultura de camélias, e plantou a primeira araucaria excelsa existente no Porto, num jardim da Rua da Alegria.

O Jardim de S. Lázaro foi mandado construir por D. Pedro IV, após o Cerco do Porto, reza a lenda que com o objetivo de prestar homenagem às mulheres da Invicta. Foi o primeiro jardim público da cidade, e foi inaugurado em 1834, no dia de aniversário de D. Maria II, ainda antes de estar terminado – o jardim só ficaria concluído em 1841. A decisão de criar este jardim é contemporânea da constituição da Biblioteca Pública, situada mesmo ao lado.

Continua a ser o único jardim no Porto, nos dias de hoje, rodeado por um gradeamento com quatro portões. É apreciado pela sombra das suas grandes magnólias, pelos sons do lago central e pelo colorido das suas camélias. Tem como ex-líbris o coreto, mas também várias estátuas e uma fonte histórica – para ali foi transferido, em 1838, o chafariz inicialmente concebida para a sacristia do Convento de São Domingos (foto no Arquivo Municipal do Porto), classificado como imóvel de interesse público.

Conta-se que foi junto a este jardim que Camilo Castelo Branco, que viveu próximo daquela zona, recebeu, das mãos do imperador do Brasil, D. Pedro II, a comenda da Ordem da Rosa. Nos primeiros anos, o Passeio Público de São Lázaro, como também era conhecido, tornou-se no local de eleição da sociedade portuense. Contudo, após a inauguração dos jardins do Palácio de Cristal e da Cordoaria, o Jardim de S. Lázaro deixou de reunir a preferência das classes sociais mais altas.

Mas este espaço recuperaria a sua importância ao longo dos anos, estando hoje em dia perfeitamente integrado na malha urbana do Porto, à disposição dos moradores e visitantes que queiram desfrutar da serenidade que proporciona.

Quem foi Marques de Oliveira?

Porém, tal como se lê no início deste texto, o nome oficial deste área verde é Jardim de Marques de Oliveira. Foi a homenagem prestada pela Câmara do Porto ao pintor nascido em 1853 no Porto, onde faleceu em 1927. João Marques de Oliveira frequentou a Academia Portuense de Belas-Artes, tendo também estudado na Escola Nacional de Belas Artes, em Paris.

Deu aulas na Academia Portuense de Belas-Artes, introduzindo os seus alunos à nova estética do naturalismo, através de sessões de trabalho no exterior. “No conjunto da vasta obra de pintura que realizou, e que se encontra dispersa por instituições públicas e privadas e coleções particulares, assumem particular significado as que dedicou aos grandes temas da Paisagem e do Retrato”, destaca o Museu Nacional de Soares dos Reis, local onde podem ser apreciadas algumas das suas obras.

Para além de dar nome ao jardim, Marques de Oliveira está também imortalizado num busto colocado naquele espaço, da autoria de Soares dos Reis. É um dos vários elementos escultóricos presentes no também conhecido como Jardim de S. Lázaro, entre os quais se destacam o busto de Silva Porto, da autoria de Barata Feyo, ou a escultura “O Torso”, de João Cutileiro.