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Histórias da Cidade: o maior órgão de tubos da Península Ibérica voltou a tocar

  • Paulo Alexandre Neves

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Guilherme Costa Oliveira

Após três anos em silêncio, por causa da pandemia e de uma profunda reabilitação orçada em 200 mil euros, financiada, em parte, pela Câmara Municipal do Porto, o órgão da Igreja de Nossa Senhora da Lapa voltou a ouvir-se esta quarta-feira, num concerto de Olivier Latry, organista titular da Catedral de Notre-Dame de Paris. A cidade ganha, de novo, um ponto de interesse cultural, que se afirmou desde a sua inauguração, em 1995.

Ao maior órgão de tubos da Península Ibérica está umbilicalmente ligado o cónego Ferreira dos Santos. O atual reitor emérito da Igreja da Lapa recordou, em entrevista ao Porto Canal (2015), que a comunidade se empenhou na construção de um instrumento, “que fosse uma voz que suasse alto, que chamasse a atenção para o assunto, a nível da cidade e do país”. “Metemo-nos numa…”, disse.

A ideia começa a germinar em 1991, quando o então reitor da Igreja da Lapa idealiza fazer uma espécie de referendo na comunidade sobre o assunto. “Disse-lhes: estamos a pensar colocar aqui [na Igreja] um instrumento. Não avançaremos sem vós. Queremos a manifestação da vossa vontade”, afirmou, na mesma entrevista, o cónego Ferreira dos Santos, explicando que foram distribuídas “umas fichas”, com nomes e contatos. Os paroquianos podiam quotizar-se, durante três anos, para aquisição do órgão. “As pessoas acreditaram em nós”, confessou.

Construtor alemão mudou-se para o Porto

A 5 de maio de 1991 foi assinado o contrato de compra do órgão de tubos à firma alemã Georg Jann Orgelbau Meisterbetrieb. Demorou quatro anos a ser construído e quatro meses a ser colocado no coro alto da Igreja. Inteiramente mecânico, com três teclados, pedaleira completa e com um “toque ibérico”, possui um total de 4.307 tubos e um carrilhão de 42 sinos. O maior tubo mede entre 10 a 12 metros de altura. O mais pequeno é de metal e mede nove milímetros.

“Atualmente seria praticamente impossível colocar um instrumento deste calibre aqui, porque isto custa um valor avultadíssimo, custa muito, muito dinheiro”, reconhece Filipe Veríssimo, mestre capela e organista titular da Igreja de Nossa Senhora da Lapa.

O construtor, Georg Jann, considera o órgão da Lapa a sua obra-prima. Tanto assim foi que mudou-se para o Porto para ficar mais próximo dela. Um grandioso instrumento, de inspiração romântica, também enquadrado pelo vitral da igreja. Ainda em vida, Georg Jann seria homenageado, nos Paços do Concelho (2015), numa cerimónia que contou com a presença do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e do cónego Ferreira dos Santos.

O órgão da Igreja da Lapa foi inaugurado a 7 de julho de 1995. Sobre esse dia, o então reitor da Lapa escrevia: “Em ambiente de grande solenidade e festa, eram ouvidos, com a maior alegria e emoção, pelas mãos do insigne Mestre Professor Franz Lehrndorfer, os primeiros acordes do grande órgão de tubos da Igreja da Lapa. O mestre Organeiro Georg Jann apresentava a sua obra-prima. A Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, a Comissão do Órgão da Lapa, a Comunidade da Igreja da lapa, instituições públicas e privadas constituíram-se em grandioso Coro, a uma só voz, para ultrapassarem todos os escolhos que pudessem impedir a chegada de tão nobre tesouro."

E ele veio para ficar.