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Histórias da cidade: o escultor João Cutileiro deixou duas obras ao Porto

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Os primeiros dias do ano 2021 foram marcados pela morte de João Cutileiro. O escultor foi um dos grandes nomes das artes em Portugal no século XX e deixou uma vasta obra – incluindo dois exemplares que podem ser apreciados no espaço público da cidade do Porto.

O país despediu-se de João Cutileiro aos 83 anos, mas a memória do artista perdurará, com obras espalhadas por inúmeras cidades portuguesas – o Porto incluído, com dois trabalhos do mestre escultor, de acordo com o cadastro do portal de informação geográfica da Câmara do Porto.

A mais antiga escultura de João Cutileiro na cidade Invicta encontra-se no Jardim de Marques de Oliveira, mais conhecido por Jardim de S. Lázaro. Datada de 1985, “O Torso” representa um corpo feminino desprovido da cabeça e dos membros – um tema recorrente na sua obra – em mármore rosa de Vila Viçosa.

Esta peça foi executada no âmbito do Simpósio Internacional de Escultura em Pedra, realizado no Porto, em 1985, a convite do Município. O evento decorreu no Palácio de Cristal e os resultados do trabalho dos vários escultores convidados foram expostos no Mercado Ferreira Borges, tendo sido depois as esculturas instaladas em vários locais do Porto.

A título de curiosidade, refira-se que o simpósio foi retratado num documentário da autoria de Manoel de Oliveira (com a colaboração do seu filho, o pintor Manuel Casimiro), no qual se mostra o processo de conceção das obras, desde o arrancar da matéria-prima na pedreira até à exposição.

São João na Ribeira

A segunda escultura de João Cutileiro representa uma figura emblemática para a cidade e encontra-se no coração da Invicta. Em plena Praça da Ribeira, no nicho que fica por cima da Fonte de São João, está a peça que retrata o santo mais acarinhado pelos portuenses.

Inaugurada em 2000, na noite de São João, a escultura tem 2,30 metros de altura e 700 quilos de peso. Com recurso ao mármore e ao bronze, representa o santo vestido com pele de cordeiro e com o cajado de pastor encimado por uma cruz, mas sem o tradicional cordeiro ao colo. “Inspirei-me no São João Baptista de Leonardo da Vinci, que também não tem cordeiro ao colo”, reconhecia, na altura, o escultor.

A escultura de João Cutileiro ficou situada em frente ao célebre trabalho “O Cubo”, da autoria de José Rodrigues – exemplar que, aquando da sua instalação, chegou a ser considerada uma ofensa para a dignidade da cidade, havendo quem sugerisse que fosse pintado ou pura e simplesmente retirado. O mestre escultor confessava à época, com humor, que desejava para a sua peça uma receção igualmente inflamada: “Espero que o meu São João desencadeie uma polémica pelo menos tão violenta. Se isso não acontecer, será um horror. O pior que podem fazer a um artista é deixar a sua obra passar despercebida”.