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Histórias da cidade: No Clube Fenianos Portuenses, o Carnaval festeja-se desde 1905

  • Paulo Alexandre Neves

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O Carnaval nunca deixou de ser comemorado no Porto. Muito por “culpa” do Clube Fenianos Portuenses. Desde o seu nascimento que a instituição ficou conhecida pelo corso carnavalesco que oferecia à cidade do Porto.

Agora, já não há corso, mas um baile de máscaras, com música ao vivo. Este ano, e depois da pandemia, o Clube Fenianos retoma os festejos carnavalescos, na sua sede, localizada no início da Avenida dos Aliados, ao lado da Câmara Municipal. Hoje, mais comedido, dentre de portas; outrora, mais expansivo, dinamizando uma festa, que na ideia dos seus fundadores, traria benefícios de maior para a cidade do Porto, nomeadamente para o seu comércio e indústria.

Criado em 1904, o Clube Fenianos assumiu-se sempre como um clube carnavalesco. Um ano antes, quatro dos seus fundadores chegaram a deslocar-se ao Brasil para “procurar obter conhecimentos necessários para a organização de um corso carnavalesco com a exuberância do carioca e a beleza estética do de Veneza”, conforme se pode ler no sítio do clube.

O primeiro Carnaval, organizado pelo Clube Fenianos, decorreu em 1905. Espantou já pela sua grandiosidade e colaboração de vários artistas de renome, como foram os casos de Rafael Bordalo Pinheiro e Teixeira Lopes. Nem carros alegóricos faltaram, como um que representava a cidade, outro o Hydra, monstro mitológico com várias cabeças, ou mesmo um do próprio clube, como documenta a fotografia de arquivo, datada de 1906.

Num trabalho académico de Ana Rita Ferreira, “O Carnaval no Porto nos anos 1950: A ação dos Fenianos” (2017), pode ler-se: “Depois, por motivos alheios aos membros dos Fenianos, os festejos na rua terminaram, para serem retomados no ano de 1939, apenas. Passados 15 anos, de novo grandes festas, entre 1954 e 1957. Nos inícios dos anos 1980, por fim, fizeram-se ainda ‘mini corsos’, a última tentativa de reavivar o Carnaval até hoje”.

Dias de grande animação na cidade

Entre 1955 e 1957, o corso carnavalesco tinha lugar, também, no chamado “Domingo Gordo”. Eram dois dias de grande animação na cidade. Continuando a citar o mesmo estudo: “Os cortejos contavam com dezenas de carros alegóricos e de fantasia, que representavam realidades regionais, mas também exóticas, e publicitários, os chamados carros-reclame (alguns de propaganda turística, outros de empresas variadas), alguns já motorizados, outros puxados a cavalo, milhares de figurantes, bandas e reputados grupos folclóricos de todo o país e de além-fronteiras, a quem pagavam para virem, uma vez que a sua presença conferia brilhantismo ao evento e atraía espectadores, que se contavam na ordem dos milhares, sem distinção de classes”.

No entanto, o Governo Civil do Porto impunha fortes limitações: “Continua a ser proibido: o uso de máscaras, ou caracterizações, a exibição de trajes ou artigos ofensivos da religião, da moral e dos bons costumes, o uso de uniformes iguais ou semelhantes aos da força pública […]. São aplicadas multas, pelas contravenções, que podem atingir um máximo de 500$00”.

Do ponto de vista económico, o Carnaval dos Fenianos teve notórios e positivos efeitos no comércio, restauração, transportes e ocupação hoteleira, pois constituía um magnífico cartaz de propaganda. Citando, de novo, Ana Rita Ferreira: “O Carnaval dos Fenianos foi, na verdade, o Carnaval de toda a gente e o Carnaval do Porto, embora sob a organização e experiência do clube”.