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Histórias da Cidade: Não é running, é a Volta a Paranhos e já leva quase 640 quilómetros nas pernas

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João Queirós

Em Paranhos, as pessoas são do Salgueiros. E isso reflete-se no futebol, como noutras modalidades e, muito vincadamente, numa das provas de atletismo mais queridas na cidade que, ano após ano, atrai os entusiastas na estrada, mas também nos passeios e nas janelas para o devido incentivo. Já são 64 edições da Volta a Paranhos, que se corre, de forma cumpridora – como qualquer adepto saberá –, no dia 8 de dezembro. É feriado no país por motivos religiosos, mas em Paranhos talvez o seja também para celebrar o aniversário do Sport Comércio e Salgueiros.

Diz o ditado popular que “quem corre por gosto não cansa” e a sabedoria é levada muito a sério em Paranhos ou não andassem milhares a correr as ruas da freguesia já desde 1956. Ao frio, claro, e tantas vezes à chuva. E, mesmo em 2020, a corrida fez-se de forma virtual, mas fez-se. A longevidade, dizem, consagra-lhe a medalha de corrida de estrada de 10 quilómetros mais antiga do país. Há quem conteste e ainda não há “photo finish” que atribua o título.

No entanto, quem corre a Volta a Paranhos corre para lá dos títulos e reforçando, ano após ano, o estatuto de prova histórica, onde é o seu cariz popular que atrai os maiores atletas nacionais e internacionais, com alguns olímpicos também a cortar a meta. Rosa Mota foi a primeira mulher a participar, e foi Paranhos que aplaudiu o regresso de Fernanda Ribeiro às corridas, aos 43 anos.

Mas outros nomes maiores do atletismo fizeram questão de dar a volta à freguesia portuense: o campeão olímpico de 1984, Carlos Lopes, e também Fernando Mamede, Armando Aldegalega, António Pinto, José Regalo, Manuela Machado, ou Albertina Dias. Afinal, era aqui que se fazia a seleção dos atletas que iam à S. Silvestre de São Paulo, no Brasil.

Entre as histórias que muitos teriam para contar, sabe-se a de Armando Aldegalega, o primeiro português a ganhar uma medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos e com duas participações nos Jogos Olímpicos, que, aos 30 e muitos anos, corria a Volta a Paranhos no segundo grupo, atrás de Carlos Lopes que, na época ainda um jovem, procurava a frente da corrida. Então, um espetador terá gritado ao veterano: “Armando, vai lá à frente ajudar o Lopes”. Ao que Aldegalega lhe terá respondido: “Vai lá é dizer-lhe para me vir ajudar!”

Às quartas-feiras, com profissionalismo ou mais dados ao amadorismo, há quem se junte e, equipado com as cores do clube, vá treinando a corrida ou caminhada pela freguesia, naquilo que o presidente, citado pela revista Gestão Empresarial em 2018, acredita ser “uma dinâmica que veio unir a população de Paranhos e o clube”.

Apesar de todos os contratempos, ao Salgueiros, clube nascido há 110 anos debaixo da luz de um candeeiro – o 1047 – na Rua da Constituição com a Rua Particular de Salgueiros, continuam a não faltar motivos para festejar. Enquanto houver estrada para andar, ou Volta a Paranhos para correr, ele vai continuar.