Sociedade

Histórias da cidade: memórias de um hospital (Maria Pia) vocacionado para as crianças

  • Paulo Alexandre Neves

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Guilherme Costa Oliveira

São muitas as memórias do antigo Hospital de Crianças Maria Pia, desativado em 2012. Ficou o edifício que, agora, a Câmara do Porto pretende que seja reconhecido como monumento de interesse municipal. O edital para consulta pública já está publicado em Diário da República.

No processo, a autarquia valoriza o "volume administrativo deste hospital, de feição neoclássica e aspetos decorativos românticos oitocentistas". Há "valores de memória, autenticidade, originalidade e singularidade, temporalmente edificados sobre valores de cultura, humanos e técnicos, que constituem um fundamento civilizacional com continuidade hodierna", adianta.

A história de criação de uma instituição destinada a "recolher, medicar e acarinhar as crianças pobres e doentes de tenra idade" remonta ao último dia do ano de 1881. Um grupo de beneméritos, reunidos no dia 31 de dezembro, no nº 115 da Rua do Bonjardim, sítio da Farmácia Homeopática do Bonjardim, decidiu avançar com a ideia, mas ela só viria a ser concretizada a 15 de março de 1882, com a aprovação do projeto, por parte do rei D. Luís I.

Da Rua da Carvalhosa para a Boavista

O "Real Hospital de Crianças Maria Pia" começou a funcionar no dia 1 de janeiro de 1883, numa casa alugada, na Rua da Carvalhosa, pertencente aos herdeiros da Viúva Chaves. Mas depressa os seus fundadores se aperceberam que a mesma não reunia as condições necessárias para um bom desempenho hospitalar. É, então, que surge a hipótese de construção de um edifício de raiz, por doação de um terreno, na Rua da Boavista, por parte de D. Emília Cabral Pereira Cardoso.

O projeto de construção, dos engenheiros Estêvão Torres e Adriano Sá, foi submetido à Câmara em dezembro de 1897. "A commissão administrativa do Real Hospital de Crianças Maria Pia, installado no prédio n.º 80 da rua da Carvalhosa, pretendendo dar começo ao seu edifício nos terrenos que lhe foram doados pela Exma. Sra. D. Emília Cabral Pereira Cardoso, à rua da Boavista, para cuja construcção está authorisada superiormente, submete à apreciação de V. Excia. o projeto completo da obra que deseja executar e pede à Exma. Câmara se digne conceder-lhe a respectiva autorização”, lê-se no documento depositado no Arquivo Municipal e onde consta também uma "memória descriptiva" (licença de obra n.º 20/1898).

A primeira pedra foi lançada a 11 de fevereiro de 1898. O rei e a rainha foram, desde logo, instituídos os primeiros sócios beneméritos e perpétuos e os príncipes Carlos e Afonso Henriques, protetores e beneméritos.

De real a nacionalizado

Só em 1911, o Hospital viria a transferido para o seu novo edifício, na Rua da Boavista, nº 822. Em plena Primeira Guerra Mundial, mais especificamente entre julho de 1917 e 1924, foi mobilizado pelo então Ministério da Guerra para tratamento de militares feridos e convalescentes e prestar assistência a adultos com tifo exantemático e gripe pneumónica.

Por causa desta situação, em 1925, o Hospital teve de receber obras de melhoramento, reabrindo como instituição pediátrica. Nessa mesma altura, por ofício da administração, foi eliminada do frontispício do edifício a designação de "Real Hospital de Crianças Maria Pia", passando a chamar-se apenas "Hospital de Crianças Maria Pia".

Com a "Revolução dos Cravos", em abril de 1974, o Hospital, que atingira na década de 60 o auge da sua funcionalidade, contando, em 1967, com 172 camas e 17 valências médicas e cirúrgicas pediátricas e até com um Posto Escolar, deixa de ser considerado de beneficência, passando para a tutela do Ministério da Saúde

A 1 de outubro de 2007 foi integrado no Centro Hospitalar do Porto e em 2012, não reunindo as condições de segurança necessárias, foi encerrado e toda a sua atividade transferida para a unidade Hospital de Santo António.