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Histórias da cidade: Luís Neves Real e sua família, o Cineclube e as “missas” ao domingo no Batalha

  • Paulo Alexandre Neves

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Miguel Nogueira

Três de junho 1947. Era inaugurado o Cinema Batalha. Propriedade da empresa Neves & Pascaud, a nova sala nasce de um projeto do arquiteto Artur Andrade (1913-2005). Uma referência de modernidade arquitetónica tornou-se, ao longo dos anos, um ícone da cidade. De tal maneira que os portuenses devolveram o sentimento de pertença, criando a expressão “Vai no Batalha!” (utiliza-se quando alguém não acredita no que lhe acabaram de dizer). É mesmo verdade: agora inaugurado, o Batalha Centro de Cinema pretende voltar a ser um dos lugares preferidos dos amantes da Sétima Arte.

Quando construído, o Batalha era constituído por dois auditórios, com capacidade para mais de mil pessoas. Depressa se tornou um local de excelência cultural da cidade. Muito se deve à determinação de Luís Neves Real (1910-1985), neto de Manuel Silva Neves, homem que trouxe o primeiro cinematógrafo para o Porto, juntamente com o sócio Edmond Pascaud.

O professor e matemático distinguiu-se como programador das salas que eram propriedade da família (Trindade, Olympia, Águia D’Ouro, Carlos Alberto e Batalha). É neste último que Luís Neves Real constrói, com a colaboração do Cineclube do Porto (de que chegou também a ser dirigente), uma programação que marcou gerações, tal como lembraram, em entrevista ao Porto., os arquitetos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez.

As manhãs de domingo “eram a nossa missa”, afirma, na mesma entrevista, Alexandre Alves Costa, que, conjuntamente com o seu colega do Atelier 15, Sérgio Fernandez, reabilitaram o Batalha, tornando hoje mais funcional e moderno.

“Um Homem Não É Um Homem Só”

“O professor Luís Neves Real foi determinante no que se refere à exibição e consumo cinematográficos na cidade do Porto e, não sei até que ponto, no panorama nacional”, afirmou, em dezembro de 2018, ao Jornal de Notícias, Alberto Seixas, autor do documentário “Um Homem Não É Um Homem Só” (2018), que se debruça justamente sobre a personalidade do professor e programador de referência na cidade. O filme venceu, nesse ano, o prémio de Melhor Curta-Metragem de Documentário dos Prémios Sophia Estudante, promovidos pela Academia Portuguesa de Cinema.

Depois de afastado da Universidade do Porto, por questões políticas, Luís Neves Real encontra no Cineclube um espaço de liberdade, onde pode programar, escolher filmes para poder passar no Cinema Batalha. Dirigido, então, por Henrique Alves Costa [pai de Alexandre Alves Costa], o Cineclube do Porto torna-se, em 1948, um parceiro insubstituível do espaço que se tornou emblemático na cidade.

Entretanto, o Batalha, classificado Monumento de Interesse Público, localizado na praça que lhe empresta o nome, propriedade da família Neves Real há mais de 75 anos, passou para a gestão da Câmara do Porto em 2017, tendo o executivo de Rui Moreira assegurado a sua reabilitação e atividade ao longo de 25 anos. Em visita este ano, ainda em obra, Margarida Neves Real, bisneta de Manuel da Silva Neves e prima de Luís Neves Real, mostrava-se emocionada: "Está lindíssimo. Gostei muito. Emocionou-me. Trouxe-me recordações de infância, já que vinha aqui, sempre, ver as sessões do Cineclube".

Para além de duas salas de projeção preparadas para a exibição de formatos digitais e analógicos (a Sala 1 tem 299 lugares e a Sala 2 tem 126 lugares), o Batalha Centro de Cinema integra uma sala, com cerca de 40 metros quadrados (Sala-Filme), dedicada à instalação de filmes e uma biblioteca dedicada à Sétima Arte.