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Histórias da cidade: há dois presépios do século XVIII para apreciar no Porto

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Existem, no Porto, dois preciosos exemplares de presépios barrocos que remontam ao século XVIII. São autênticas obras de arte, que se distinguem, também, pelo facto de neles figurarem quatro Reis Magos, e não três como é tradicional.

Está a chegar ao fim um ano atípico, absolutamente excecional, em que muitas tradições tiveram de ser adaptadas, ou mesmo adiadas para data mais oportuna. Por exemplo, e ao contrário do que é hábito, em 2020 a Árvore de Natal não foi montada em frente à Câmara do Porto – mas não é por esse motivo que o espírito da quadra festiva deixa de fazer-se sentir na cidade.

As ruas da Baixa estão iluminadas, há um Mercado de Natal na Praça da Batalha, e as compras no comércio tradicional de rua beneficiam de vales de desconto. E também há várias opções para quem não dispensa os símbolos mais profundamente enraizados no imaginário natalício.

Os portuenses e os visitantes da cidade têm à sua disposição dois presépios do século XVIII, joias da arte barroca, que merecem uma contemplação demorada pelo nível de detalhe que exibem. São trabalhos da escola de Machado de Castro, considerado o maior presepista nacional, e podem ser apreciados em dois locais: na Igreja de São José das Taipas, e também no Núcleo Museológico da Confraria das Almas do Corpo Santo de Massarelos.

Classificados entre os presépios mais antigos da cidade, estes dois exemplares têm uma originalidade que os singulariza: neles figuram quatro Reis Magos, um a mais do que a tradição. Gaspar, Baltazar e Belchior têm a companhia de uma quarta personagem, e a explicação para tal facto assenta numa curiosidade histórica.

“Como os Reis Magos representam a universalidade da mensagem de Jesus e, no século XVIII, já era conhecida a chegada do homem ao continente americano, Joaquim Machado de Castro personificou no presépio o índio, puxando um lama. Segue-se toda uma comitiva de pajens que trazem vários dromedários, carregados de material e bens, para garantirem a viagem dos Sábios Reis”, pode ler-se na informação disponibilizada na Igreja de São José das Taipas.

Considerado um dos mais antigos presépios da cidade, este exemplar inclui ainda uma referência ao “verdadeiro sentido do Natal”, acrescenta a explicação: “A típica família portuguesa do século XVIII, que de forma humilde se reúne em torno da mesa, para darem graças”, incluindo os elementos tradicionais da época, como por exemplo a cabaça de vinho, peixes e o pão.

Este presépio barroco não está, por norma, acessível ao público devido a questões de segurança e de conservação. “Mas, este ano, a Irmandade das Almas de São José das Taipas decidiu presentear a cidade com a sua exibição. O presépio pode ser visitado diariamente no período da manhã, entre as 11 e as 12,30 horas, ou à tarde, entre as 15,30 e as 17 horas. Existe ainda a possibilidade de realizar visitas noutros horários, mediante um agendamento prévio”, fez saber em comunicado. Já o exemplar depositado no Núcleo Museológico da Confraria das Almas do Corpo Santo de Massarelos pode ser visitado no horário que vigorará até 28 de março de 2021: terças e sábados das 14 às 18 horas.

Além do presépio do século XVIII, a Igreja de São José das Taipas tem ainda, no seu exterior, um painel com seis metros de altura, no qual pode ver-se uma reinterpretação da cena da natividade, em graffiti, da autoria do artista portuense Kilos. Um encontro entre a persistência das tradições e a modernidade, que, num ano diferente, representa uma segurança para o futuro.