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Histórias da cidade: há 156 anos, a primeira árvore de Natal do Porto foi uma “innovação”

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Cor, luz e magia são ingredientes essenciais da quadra natalícia, no Porto ou em qualquer outro lugar. Há mais de século e meio, a cidade viveu intensamente a ocasião de ter a sua primeira árvore de Natal pública, com uma grande festa infantil.

O antigo Palácio de Cristal era o centro de todas as atenções em dezembro de 1865. Naquele recinto, construído para acolher a primeira Grande Exposição Internacional do Porto, que estava nessa altura a decorrer, foi instalada a primeira árvore de Natal pública da cidade. Um evento que incluiu distribuição de prendas e programação especialmente pensada para o público infantil.

Se, nos últimos anos, o local escolhido para instalar a árvore de Natal do Porto tem sido a Praça do General Humberto Delgado, no topo da Avenida dos Aliados, em 1865 o “salão de festas” foi o antigo Palácio de Cristal. Ali ficou instalado o símbolo da magia do Natal, uma “innovação” – tal como descrita na altura pel’O Comércio do Porto – muito bem recebida pelos portuenses e por quem visitava a cidade.

Na sua edição de 22 de dezembro desse ano, O Comércio do Porto antecipava a “grande festa infantil” que iria realizar-se: “Distribuição de prendas e concerto no qual tomarão parte alguns jovens artistas e curiosos. Aos meninos e meninas será distribuído gratuitamente um bilhete de sorteio aos prémios da árvore”, anunciava-se.

A celebração estava marcada para o final da tarde de 23 de dezembro de 1865, e n’O Comércio do Porto desse dia davam-se alguns detalhes sobre o evento de inauguração da primeira árvore de Natal pública da cidade: “Eis finalmente chegado o grande dia das creanças. A festa que para ellas principalmente resolveu levar a effeito a direcção do Palacio de Crystal, está por horas a realisar-se. A arvore do Natal, vistosamente embrincada, acena-lhes já d’aquelle recinto com as mil variadíssimas prendas que hão-de fazer pulsar de anciedade os seus corações infantis”, podia ler-se (respeitou-se a grafia da época).

“A arvore do Natal, cuja inauguração terá hoje lugar à hora que acima indicamos, acha-se disposta de modo que produz o mais deslumbrante effeito. Este será ainda realçado pela grande quantidade de luzes que devem iluminal-a e completar o seu embellezamento”, acrescentava o diário.

Com 10 metros de altura, o pinheiro de Natal causou forte impressão, de acordo com o relato d’O Comércio do Porto. Seguindo, uma vez mais, a grafia utilizada à época: “A realisação d’este divertimento, novo entre nós, não illudiu a espectativa. A arvore do Natal, vistosamente illuminada e coberta de bonecos de Nuremberg, de «bonsbons» e de brincos infantis de todo o genero, produzia um agradavel effeito, desafiando as pequeninas ambições d’aquelles para quem o esplendente pinheiro tinha sido tão profusa e guapamente embellezado”, narrava na edição de 24 de dezembro.

“É de certo para ser festejado o pensamento que a direcção do Palacio de Crystal poz em practica, introduzindo entre nós uma innovação, que tem muito de agradavel para não ser bem recebida. Effectivamente o resultado do primeiro ensaio verificado hontem mostra que o foi”, concluía o diário.

Nascia uma tradição, que o Porto continua a manter viva a cada ano. Em 1865, como em 2021, a árvore é o símbolo da magia natalícia e o centro das atenções quando ilumina a cidade com as suas luzes.