Sociedade

Histórias da cidade: Futuro do cinema português passou sempre pelo Batalha

  • Paulo Alexandre Neves

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Filipa Brito

Cinquenta e cinco anos separam esta história, curiosamente com o mesmo local de ação, os mesmos organizadores, naturalmente com outros protagonistas, e a mesma intenção: discutir soluções e caminhos para o cinema português. O Batalha Centro de Cinema foi palco, no início de junho, dos Novos Encontros do Cinema Português, réplica da "Semana de Estudos sobre o Novo Cinema Português", ali realizado em dezembro de 1967.

Data de 2 de setembro de 1967, uma carta do Clube Português de Cinematografia - Cineclube do Porto, dirigida ao Serviço de Belas Artes da Fundação Calouste Gulbenkian, onde se pode ler que a instituição portuense, fundada em 1945, pretendia "analisar o cinema nacional num contexto de cultura, legislação, indústria, comércio, etc…".

Para tanto, seriam exibidos, de 2 a 10 de dezembro, "os filmes mais representativos, apresentadas comunicações e realizados colóquios". "Temos assegurada a colaboração de realizadores e críticos de cinema portugueses e espanhóis, escritores, economistas e sociólogos", acrescenta o documento, assinado pela direção do Cineclube do Porto.

A histórica "Semana de Estudos sobre o Novo Cinema Português" viria a realizar-se no Cinema Batalha, nas datas previstas, organizada pelo Cineclube do Porto, com o apoio financeiro da Câmara Municipal do Porto, da Fundação Calouste Gulbenkian, que atribuiu um subsídio de 50 contos, para além dos fundos obtidos com a realização de um leilão de arte portuguesa contemporânea.

A marca deixada pelo Centro Português de Cinema

Em declarações ao JPN-JornalismoPortoNet, a atual presidente do Cineclube do Porto, Ana Carneiro, não tem dúvidas que, com aquela iniciativa, denotou-se o "surgimento de um novo cinema português", a "criação da cooperativa de filmes juntamente com a Fundação Gulbenkian" e a "inequívoca importância que estes encontros, na altura, tiveram".

Nem mesmo o facto de se estar em pleno Estado Novo impediu que a discussão se fizesse. Cineastas, cinéfilos, jornalistas, críticos de cinema queriam tão só encontrar uma solução para aquilo a que já se chamava "crise do cinema português". Foram intervenientes, entre outros, António de Macedo, António-Pedro Vasconcelos, Fernando Lopes, Gérard Castello-Lopes, Henrique Alves Costa, Jorge Peixinho, José Cardoso Pires, Lauro António, Luís de Pina, Luís Neves Real, Manoel de Oliveira, Manuel Pina, Paulo Rocha.

As sessões de trabalho, por sinal bastante concorridas, decorreram na sede do Cineclube e a projeção de filmes no Cinema Batalha. Todos queriam tentar resolver e encontrar soluções e caminhos para o setor. Por exemplo, da mesa-redonda "O Cinema Português e a Fundação Calouste Gulbenkian" saiu o documento – Ofício do Cinema em Portugal – subscrito pelos participantes e ainda pelos cineastas Artur Ramos e Manuel Faria de Almeida, e que expressa, em termos genéricos, de que forma se pretendia materializada a intervenção da Fundação no apoio ao novo cinema português.

O Centro Português de Cinema viria a ser fundado em 1970. Ali produziram-se obras emblemáticas como "O Passado e o Presente" de Manoel de Oliveira, "Perdido Por Cem" de António-Pedro Vasconcelos, "A Promessa" de António de Macedo, "Brandos Costumes" de Alberto Seixa Santos, "Meus Amigos" de António da Cunha Teles, "Nós Por Cá Todos Bem" de Fenando Lopes, "O Recado" de José Fonseca e Costa, "Trás os Montes" de Margarida Cordeiro e António Reis ou "Fragmentos de Um Filme Esmola" de João César Monteiro, entre outros.