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Histórias da cidade: Foz do Douro teve o primeiro farol moderno de Portugal

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Pela sua localização privilegiada, o Porto sempre teve uma relação de grande proximidade com o mar, tendo mesmo sido pioneiro na orientação de embarcações com recurso a sinais luminosos.

A morada não deixa margem para dúvidas: subindo a Rua do Farol, a dois passos da Praça de Liège, na Foz, encontramos no alto do Monte da Luz (também este um nome autoexplicativo) a torre quadrangular daquele que foi o primeiro farol moderno em Portugal. Foi construído no Porto, a poucas centenas de metros do mar, e tirava partido daquela elevação natural para guiar a navegação das embarcações que se aproximavam da Foz do Douro.

A existência de um foco luminoso no Monte da Luz para orientação marítima remonta ao final do século XVII, embora o farol, na atual aceção da palavra, só tenha iniciado o seu funcionamento em 1761.

"O primeiro farol, propriamente dito, a nascer em Portugal, consta que foi o de Nossa Senhora da Luz, a norte da barra do Douro. O início do seu funcionamento data de 1761, e substituiu a luz que anteriormente vinha sendo mantida pela irmandade de Nossa Senhora da Luz, no mesmo lugar, desde 1680, altura em que o edifício foi erigido", explicava a Direção de Faróis da Autoridade Marítima num texto publicado na Revista da Armada em Fevereiro de 2018.

O edifício quadrangular que ainda hoje encontramos no Monte da Luz ascende aos 19,26 metros de altura, comunicando com algumas casas que serviam de alojamento para o faroleiro e família, de arrecadação e oficinas.

O mesmo artigo recordava que "o processo de alumiamento da costa portuguesa" teve um grande impulso com o alvará do Marquês de Pombal, em 1758, que estabeleceu a "necessidade urgente de voltar a iluminar a entrada dos principais portos do país, que tinham ficado destruídos com o terramoto de 1 de novembro de 1755". No caso do Farol de Nossa Senhora da Luz, tratou-se de uma adaptação do edifício que já existia, equipando-o com a tecnologia que fez daquele o primeiro farol moderno em Portugal.

O farol de Nossa Senhora da Luz seria destruído por um raio em 1814, tendo sido recuperado e sucessivamente modernizado. Seria desativado no século XX, com a modernização do farolim do molhe de Felgueiras e a construção do farol de Leça. Em 1996 o edifício no alto do Monte da Luz foi classificado como valor concelhio, tendo em 2001 sido reconhecido como imóvel de interesse municipal.

Invicta foi pioneira no século XVI

Antes da entrada em funcionamento do farol de Nossa Senhora da Luz, o que existia na costa portuguesa eram fogueiras ou candeias alimentadas a azeite - como seria aquela que a irmandade de Nossa Senhora da Luz mantinha no local que depois deu lugar ao farol.

"Este tipo de luzes, normalmente chamadas de faróis, eram, contudo, bem diferentes daquilo que atualmente consideramos como farol. Eram assim chamadas pelo facto de estas luzes (fogueiras ou candeeiros) serem acesas em cima de torres ou torreões edificados para o efeito. Serviam, assim, como referência noturna, devido à luz, mas também como referência diurna, devido ao tamanho da torre. Este tipo de luzes surge na nossa costa já com um caráter oficial, no entanto eram apenas estabelecidas alguns meses por ano, ou de forma ocasional", detalhava a Revista da Armada.

Também neste campo o Porto foi pioneiro, uma vez que já no século XVI possuía um meio de orientação marítima, o único construído nessa altura que chegou aos nossos dias.

Considera-se a década de 1520 como ponto de partida do processo de alumiamento da costa portuguesa, com a construção de três "ditos" faróis em locais estratégicos: um no Cabo de São Vicente, no extremo ocidental da costa algarvia, e outros dois na aproximação das barras do Porto e de Lisboa, São Miguel-o-Anjo e Nossa Senhora da Guia, respetivamente.

Ao Passeio Alegre, no local onde viria a ser instalado o farolim da Cantareira, a torre granítica do farol de S. Miguel-o-Anjo foi a única construção deste género e daquela época que chegou aos nossos dias relativamente bem conservada. "É muito provável que os outros dois fossem do mesmo tipo, torres quadrangulares, com candeeiros alimentados a azeite, suspensos junto às janelas. Na época, o seu funcionamento era normalmente assegurado pela comunidade religiosa, pois a localização de alguns conventos tornava-os locais de eleição para a colocação daquelas luzes", assinalava a Revista da Armada.