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Histórias da cidade: era uma vez a praça onde o Porto ia comprar pão

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Filipa Brito

Aquele alimento nunca esteve na designação oficial deste espaço no Porto, mas até ao início do século XX era o local de referência ao qual os portuenses iam para comprá-lo: popularmente conhecida como Praça do Pão, hoje é a Praça de Guilherme Gomes Fernandes, em homenagem a um herói da cidade.

Durante várias décadas, era à Praça de Santa Teresa que os portuenses acorriam para comprar pão. A dois passos dos Clérigos, o local era popularmente conhecido como Praça do Pão ou Feira da Farinha: ali funcionava a Feira do Pão, onde tinham as suas bancas os vendedores deste alimento, originários sobretudo de Avintes e de Valongo.

A tradição de vender pão na praça atualmente consagrada a Guilherme Gomes Fernandes remonta, pelo menos, a meados do século XIX. Os comerciantes tinham barracas ao redor da praça e vendiam um grande leque de biscoitos e pães. Passado mais de século e meio, aquele local continua a ter pelo menos uma referência da panificação: a Padaria Ribeiro surgiu em 1878 e ali continua a honrar a tradição nos dias de hoje, integrando o lote de lojas reconhecidas pelo programa municipal Porto de Tradição.

A Feira do Pão que ali se realizou durante várias décadas ficou imortalizada em postais que podem ser consultados no Arquivo Municipal do Porto. Neles se veem as bancas de venda ao redor da praça, os transeuntes que passam, e os vendedores que carregam à cabeça a mercadoria.

A tradição começaria a mudar em 1909, quando a feira passou para o antigo Mercado do Anjo, na Cordoaria. E em 1915 foi a própria praça a mudar de designação: deixou de ser Praça de Santa Teresa para tornar-se Praça de Guilherme Gomes Fernandes, em homenagem a um homem distinto da cidade. Empresário, atleta, ginasta, Guilherme Gomes Fernandes foi também impulsionador da formação de corporações humanitárias de bombeiros voluntários.

A homenagem não se esgota no nome da praça – Guilherme Gomes Fernandes está ainda imortalizado num busto, da autoria do escultor Bento Cândido Silva, que se encontra no centro do jardim que ali existe. Uma honra merecida pelo fundador da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários, que foi comandante dos Bombeiros Voluntários do Porto e se destacou no combate ao incêndio que dizimou o Teatro Baquet, em 1888, matando cerca de 120 pessoas.

Num local onde durante muitos anos se vendeu pão, o alimento do corpo, a cidade presta homenagem a alguém que alimentou o espírito com altruísmo. Guilherme Gomes Fernandes seria o impulsionador da divulgação do lema “vida por vida”, que continua a dar o mote à ação dos bombeiros, e viu o seu empenho recompensado com o primeiro lugar obtido pelos bombeiros do Porto no Concurso Internacional de Bombeiros de 1900. A competição realizada em França, na qual participaram contingentes de mais de uma dúzia de países, foi arrebatada pelos “soldados da paz” portuenses, dirigidos por Guilherme Gomes Fernandes, que obtiveram o título de campeões do mundo e um prémio pecuniário.